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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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CLÓVIS ROSSI

Expulsem Alencar

SÃO PAULO - Afinal de contas, manter juros altos é fundamental para o controle da inflação, como diz o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ou é "jogar R$ 80 bilhões pela janela", como prefere o vice-presidente José Alencar?
Os dois são, digamos, neolulistas. Alencar foi caçado para candidato a vice-presidente no pressuposto de que sua adesão a Lula reduziria a histórica resistência dos setores empresariais ao candidato do PT.
Vistas as coisas em perspectiva, foi uma caça inútil. Lula tornou-se o mais novo herói do empresariado, dos liberais e dos organismos internacionais por fazer exatamente o oposto do que prega Alencar.
Já Henrique Meirelles consta ter sido apenas a quinta ou a sexta opção do PT para ocupar o Banco Central depois da recusa de vários nomes com perfil assemelhado (alguns dos quais, a bem da verdade, imensamente piores). Mesmo assim, virou "lulista" desde criancinha.
Qual é a posição do próprio presidente sobre juros? "Sentiu-se violentado", diz-se no coração do Planalto, quando cedeu aos argumentos de Meirelles e concordou com o primeiro dos dois aumentos decididos no seu governo.
Deve ter gostado, porque concordou com um segundo aumento.
Só depois é que começou a emitir crescentes sinais de que não quer mais violências contra o seu íntimo na forma de um terceiro aumento. Para a atividade econômica, não basta. É preciso que os juros caiam, não que fiquem onde estão.
Se, no entanto, Meirelles insistir em que a inflação ainda é alta e que, portanto, os juros devem ficar como estão, o que fazer com Alencar?
Não dá para submetê-lo a uma comissão de ética porque é do PL, não do PT. Não dá para chamá-lo de radical e, com isso, tratar de desqualificá-lo, porque a imagem do vice é da mais pura bonomia (nem cabelo tem, quanto mais a cabeleira do Babá).
No entanto expõe com mais dureza as contradições entre o que foi o PT e o que é o seu governo do que os mal chamados radicais.


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