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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Lula tem medo de quê?

BRASÍLIA - O governo tomou posse, os juros subiram, as reformas foram apresentadas, discute-se a "fase 2" da economia, e eu já estou tirando férias a partir de amanhã. Mas, até hoje, como registrou o jornal "Valor" na sexta-feira, Lula não deu uma só entrevista para os jornais brasileiros -nem coletiva, nem exclusiva.
Depois de eleito, só falou com exclusividade à Globo (por que será, hein?) e para o "Washington Post" (deve ser a política externa "ativa"). E, depois da posse, fala pelos cotovelos, mas em solenidades públicas e sem direito a perguntas incômodas.
Vai ver ele quer evitar perguntas fúteis. Sobre a cópia escrita e acabada do governo FHC na economia. Irritante. Sobre o Fome Zero, que continua um amontoado de boas intenções. Chatice. A definição da política industrial. Maçante.
O silêncio de Lula, pois, é providencial. Não só para calar o presidente, mas para calar perguntas que não querem calar. Repórteres não entendem que tudo mudou e tentam tratar este como os demais governos: querendo saber umas coisas e tentando entender outras. Inconvenientes.
Afora ironias, falta a Lula, ao núcleo de poder político e à equipe de comunicação um entendimento elementar: os jornalistas perguntam o que milhares de pessoas querem saber. Em geral, não responder a perguntas deles é não responder às da sociedade.
Depois da eleição de outubro do ano passado, os neopoderosos empinaram o nariz e calaram. "Ordem do chefe", alegavam. Aconteceu o de sempre: com o tempo, passaram a tomar a iniciativa de telefonar para quem antes não atendiam.
Agora, falta Lula. Acha que lucra mais com discursos transmitidos pelas tevês do que tendo de responder a perguntas -ou prestar contas- para esses enxeridos da imprensa.
Lula impressiona favoravelmente, mas tem muito o que aprender. Por exemplo: perguntar não ofende, calar é que é ofensivo.
 
Até a volta!


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