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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Novo poder

RIO DE JANEIRO - A corrupção policial e a incompetência dos governantes, os atuais e os anteriores, são apontados por entendidos e por não-entendidos como responsáveis pela onda de violência urbana que atravessamos e que tem como núcleo e, mais do que núcleo, como símbolo, o Rio de Janeiro.
Evidentemente que há corrupção na polícia e as autoridades ainda não encontraram uma solução para combater o crime, seja o organizado, seja o desorganizado.
Há a convicção generalizada de que a causa de nossos problemas no setor se deve ao tráfico de drogas. Parece que, sim, é o iceberg visível que ameaça afundar o Titanic do Estado.
Mas os recentes episódios nas faculdades e colégios cariocas indicam um novo dado da questão. Traficantes ou não, uma vanguarda de marginais colocou-se contra a sociedade organizada, não para obter a vantagem imediata da venda das drogas ou do roubo, mas apenas para firmar uma presença, um tumor maligno no tecido social.
No início, ao mandar fechar ruas e casas comerciais, poderia parecer uma jogada de marketing dos traficantes. Agora não. Eles assustam o que a classe média tem de mais valioso, que é a educação média e superior dos filhos daquilo que os comunistas chamavam de "pequena burguesia".
Nos últimos incidentes envolvendo colégios e faculdades, não houve roubo, a estudante baleada foi vítima de uma bala perdida, havendo dúvida se o disparo foi de arma dos bandidos ou da polícia.
E outros casos virão, planejados para serem o mais incruentos possíveis, mas cuja finalidade é exibir o poder de fato de uma vanguarda que, interessada inicialmente em lucrar com o crime, aos poucos está criando um fato novo ao qual, pouco a pouco, estamos nos habituando
Um teórico marxista dos velhos tempos classificaria o fenômeno como revolucionário. É um exagero, mas não está longe da verdade.


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