São Paulo, terça-feira, 18 de maio de 2004

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VALDO CRUZ

Falta é vontade

BRASÍLIA - A falta de crédito é sempre apontada, com razão, como uma das principais causas do medíocre crescimento nacional. Crédito barato, então, é produto raro no Brasil.
A triste realidade brasileira, porém, é que, mesmo sendo pouco, nem esse pouco é totalmente utilizado. Vejamos o caso do setor de turismo.
Em 2003, no lançamento do Plano Nacional de Turismo, o ministro Walfrido Mares Guia anunciou que o presidente Lula havia aprovado a liberação de R$ 1,8 bilhão a juros baixos para a área. Estava de olho na promessa de criar 1,2 milhão de empregos no setor até 2007.
Um ano depois, boa parte do crédito ficou nos cofres dos bancos federais. Tomemos o exemplo do BNDES. No lançamento do plano, em abril de 2003, divulgou-se que ele destinaria R$ 500 milhões no ano para projetos turísticos. Balanço final: emprestou só R$ 74 milhões.
No Banco do Brasil, a situação não foi diferente. O banco ajudaria a repassar R$ 140 milhões, dinheiro barato, para o turismo na região Centro-Oeste. Não passou dos R$ 4 milhões em 2003.
Justiça seja feita, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Nordeste, apesar de não atingirem suas metas, moveram-se. A CEF emprestou R$ 90 milhões no ano passado, contra R$ 40 milhões em 2002.
Os empresários do turismo reclamam que os bancos fazem exigências demais, montam verdadeiras barreiras, não demonstram grande interesse em investir no setor.
Os bancos alegam que precisam se proteger de caloteiros. Mares Guia não ataca os bancos, mas lembra que uma grande rede varejista empresta até para quem não tem carteira assinada e só tem 2% de inadimplência.
Para saber a versão dos bancos, o ministro pediu reunião com todos nesta semana. Não consegue compreender por que uma prioridade do presidente não deslancha.
O fato é que os bancos brasileiros, oficiais e privados, continuam preferindo os ganhos fáceis da ciranda financeira. Emprestar para o setor privado dá trabalho e é arriscado.


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