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VALDO CRUZ
Falta é vontade
BRASÍLIA - A falta de crédito é sempre apontada, com razão, como uma
das principais causas do medíocre
crescimento nacional. Crédito barato, então, é produto raro no Brasil.
A triste realidade brasileira, porém,
é que, mesmo sendo pouco, nem esse
pouco é totalmente utilizado. Vejamos o caso do setor de turismo.
Em 2003, no lançamento do Plano
Nacional de Turismo, o ministro
Walfrido Mares Guia anunciou que
o presidente Lula havia aprovado a
liberação de R$ 1,8 bilhão a juros baixos para a área. Estava de olho na
promessa de criar 1,2 milhão de empregos no setor até 2007.
Um ano depois, boa parte do crédito ficou nos cofres dos bancos federais. Tomemos o exemplo do BNDES.
No lançamento do plano, em abril de
2003, divulgou-se que ele destinaria
R$ 500 milhões no ano para projetos
turísticos. Balanço final: emprestou
só R$ 74 milhões.
No Banco do Brasil, a situação não
foi diferente. O banco ajudaria a repassar R$ 140 milhões, dinheiro barato, para o turismo na região Centro-Oeste. Não passou dos R$ 4 milhões em 2003.
Justiça seja feita, a Caixa Econômica Federal e o Banco do Nordeste,
apesar de não atingirem suas metas,
moveram-se. A CEF emprestou R$ 90
milhões no ano passado, contra R$
40 milhões em 2002.
Os empresários do turismo reclamam que os bancos fazem exigências
demais, montam verdadeiras barreiras, não demonstram grande interesse em investir no setor.
Os bancos alegam que precisam se
proteger de caloteiros. Mares Guia
não ataca os bancos, mas lembra que
uma grande rede varejista empresta
até para quem não tem carteira assinada e só tem 2% de inadimplência.
Para saber a versão dos bancos, o
ministro pediu reunião com todos
nesta semana. Não consegue compreender por que uma prioridade do
presidente não deslancha.
O fato é que os bancos brasileiros,
oficiais e privados, continuam preferindo os ganhos fáceis da ciranda financeira. Emprestar para o setor privado dá trabalho e é arriscado.
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