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RUY CASTRO
Equívoco sideral
RIO DE JANEIRO - Venetia
Phair, uma senhorinha de 90 anos,
morreu outro dia em Surrey, Inglaterra. Aos 11 anos, em 1930, ao
se confirmar a existência de um
certo "planeta X" no ponto extremo
do Sistema Solar, e ao saber que
os cientistas buscavam um nome
para ele, ela sugeriu Pluto -em
português, Plutão.
Por uma feliz sequência de relações, a sugestão chegou aos ouvidos
da Real Sociedade Astronômica,
em Londres, que a repassou ao
Observatório de Flagstaff, no Arizona, autor da descoberta, e foi aceita.
Plutão, o deus romano do submundo, venceu Cronos, Minerva, Zeus,
Atlas e Perséfone, que também
estavam no páreo. E, com isso,
uma simples menina inglesa batizou um corpo celeste.
Talvez por ser um planetinha mínimo, escuro e gelado, perdido
nos subúrbios do universo e, ironicamente, portador de um nome tão
grandioso, Plutão caiu na simpatia
geral. Todas as crianças que, um
dia, estudaram o céu na aula de
geografia, fantasiaram a seu respeito. Pois devemos isso à jovem Venetia (pronuncia-se Vinicha).
Muitos anos se passaram, e Venetia, já idosa, teve o desapontamento
de saber, em 2005, que a União Astronômica Internacional rebaixara
Plutão à segunda divisão. Não era
mais um planeta, mas um "planeta-anão" -um torrão de rocha e gelo
vadiando no infinito. Para confortá-la, criaram a palavra "plutoide"
para designar formações parecidas.
Mas Venetia sempre teve mais
com que se aborrecer. No mesmo
1930 em que ela batizou Plutão,
Walt Disney lançou um desenho
animado sobre um cachorro -a
princípio, sem nome. O bicho agradou tanto que, um ano depois, ganhou uma série só para ele e foi
chamado de Pluto. E ficou tão famoso que a pobre Venetia teve
de passar a vida explicando que o
planeta não era uma homenagem
ao cachorro, e sim o contrário.
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