São Paulo, segunda-feira, 18 de maio de 2009

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RUY CASTRO

Equívoco sideral

RIO DE JANEIRO - Venetia Phair, uma senhorinha de 90 anos, morreu outro dia em Surrey, Inglaterra. Aos 11 anos, em 1930, ao se confirmar a existência de um certo "planeta X" no ponto extremo do Sistema Solar, e ao saber que os cientistas buscavam um nome para ele, ela sugeriu Pluto -em português, Plutão.
Por uma feliz sequência de relações, a sugestão chegou aos ouvidos da Real Sociedade Astronômica, em Londres, que a repassou ao Observatório de Flagstaff, no Arizona, autor da descoberta, e foi aceita. Plutão, o deus romano do submundo, venceu Cronos, Minerva, Zeus, Atlas e Perséfone, que também estavam no páreo. E, com isso, uma simples menina inglesa batizou um corpo celeste.
Talvez por ser um planetinha mínimo, escuro e gelado, perdido nos subúrbios do universo e, ironicamente, portador de um nome tão grandioso, Plutão caiu na simpatia geral. Todas as crianças que, um dia, estudaram o céu na aula de geografia, fantasiaram a seu respeito. Pois devemos isso à jovem Venetia (pronuncia-se Vinicha).
Muitos anos se passaram, e Venetia, já idosa, teve o desapontamento de saber, em 2005, que a União Astronômica Internacional rebaixara Plutão à segunda divisão. Não era mais um planeta, mas um "planeta-anão" -um torrão de rocha e gelo vadiando no infinito. Para confortá-la, criaram a palavra "plutoide" para designar formações parecidas.
Mas Venetia sempre teve mais com que se aborrecer. No mesmo 1930 em que ela batizou Plutão, Walt Disney lançou um desenho animado sobre um cachorro -a princípio, sem nome. O bicho agradou tanto que, um ano depois, ganhou uma série só para ele e foi chamado de Pluto. E ficou tão famoso que a pobre Venetia teve de passar a vida explicando que o planeta não era uma homenagem ao cachorro, e sim o contrário.


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