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CARLOS HEITOR CONY
As regras do jogo
RIO DE JANEIRO - Que a reforma da Previdência é necessária e urgente todos concordam. Seria uma das prioridades do atual governo com a qual
todos poderíamos estar de acordo.
Infelizmente, as propostas até agora
divulgadas são, além de polêmicas,
absurdas.
Polêmicas porque são tecnicistas:
ignoram o seu lado eminentemente
social e abordam o problema como
um guarda-livros de antigamente faria ao tratar do déficit operacional
num laboratório de pomadas para
curar frieiras.
Absurdas porque partem de uma
aberração jurídica, uma vez que retroagem, punindo milhares, certamente milhões de pessoas que entraram no processo, ou seja, no jogo, e
não podem aceitar pacificamente
que as regras sejam mudadas no decorrer da partida.
Concorda-se que há casos extravagantes, que podem ser solucionados
na Justiça comum. Mas o grosso das
pensões foi arbitrado numa regra
que deve ser mantida. Se a regra é
ruim, que seja mudada a partir de
certo momento, sem retroagir.
Um general ou um magistrado entraram na carreira ainda jovens,
confiando que na velhice teriam a
garantia de um soldo ou de uma pensão. Mudar o critério, mutilando o
investimento de toda uma vida, além
de ser uma injustiça, é uma crueldade do Estado.
O exemplo é de cima, na escala superior do mercado de trabalho. Mas
serve para todos os estágios da pirâmide social. A reforma da Previdência, por mais necessária e urgente que
seja, não está obrigada a respeitar direitos adquiridos, mas deve obedecer
ao elementar bom senso jurídico, segundo o qual a lei não retroage. A
partir de determinada data estabelecida pela nova lei, o sistema previdenciário seria regulamentado por
nova filosofia social, novos cálculos,
novas hipóteses. Quem entrasse para
o serviço público, por exemplo, organizaria sua vida profissional e planejaria seu futuro de acordo com as novas regras.
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