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CLÓVIS ROSSI
Ainda há esperança
SÃO PAULO - Sinto tremenda inveja das vítimas do congestionamento
adicional de trânsito provocado pelas
obras da prefeitura. Elas ao menos
têm a esperança de que, acabadas as
obras, o trânsito irá fluir melhor. Sabemos todos que o alívio será temporário, mas não se pode querer tudo na vida, não é mesmo?
Eu nem esperança posso ter de alguma melhora, porque não há obras
no percurso casa-trabalho-casa. Cada vez que caio na avenida 23 de
Maio (principal ligação da zona Sul
com o centro), é aquele maravilhoso
cenário feito de pará-choques e lataria, quilômetro após quilômetro.
Faz tempo que é assim. Na campanha eleitoral de 1996, Duda Mendonça (sim, o mesmo) vendia Celso Pitta
com um outdoor que dizia: "Não deixe São Paulo parar".
O trânsito todo parado e a frase publicitária ali na frente, gozando da
minha cara. Dava vontade de abrir
os vidros e gritar para as demais vítimas da gozação: "E vocês ainda vão
votar nele?". Votaram.
Agora, ao congestionamento somou-se uma armadilha quase no fim
do percurso: o túnel sob a praça Roosevelt está sem iluminação sei lá há
quanto tempo. O motorista vem da
forte luminosidade do trecho imediatamente anterior e, de repente, cai no
breu. Pode, fácil fácil, perder o controle do carro.
Em um país civilizado, jamais alguém ousaria deixar sem iluminação
um ponto de tanto movimento como
aquele, a não ser eventualmente por
algumas horas para reparos de emergência. Já em São Paulo, fica o tempo
que for necessário para a gente se
acostumar, como se acostumou com
os congestionamentos.
Podiam, ao menos, providenciar
uma placa que dissesse mais ou menos assim: "Tolinhos, vocês vão mergulhar nas trevas logo adiante. Não
digam que não avisamos".
Ou, já que o velho e bom Duda
Mendonça está de volta à cidade, poderiam pedir a ele mais uma gozação
como a daquele cartaz de 1996. Baiano é que sabe levar a vida.
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