São Paulo, sexta-feira, 18 de junho de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Ainda há esperança

SÃO PAULO - Sinto tremenda inveja das vítimas do congestionamento adicional de trânsito provocado pelas obras da prefeitura. Elas ao menos têm a esperança de que, acabadas as obras, o trânsito irá fluir melhor. Sabemos todos que o alívio será temporário, mas não se pode querer tudo na vida, não é mesmo?
Eu nem esperança posso ter de alguma melhora, porque não há obras no percurso casa-trabalho-casa. Cada vez que caio na avenida 23 de Maio (principal ligação da zona Sul com o centro), é aquele maravilhoso cenário feito de pará-choques e lataria, quilômetro após quilômetro.
Faz tempo que é assim. Na campanha eleitoral de 1996, Duda Mendonça (sim, o mesmo) vendia Celso Pitta com um outdoor que dizia: "Não deixe São Paulo parar".
O trânsito todo parado e a frase publicitária ali na frente, gozando da minha cara. Dava vontade de abrir os vidros e gritar para as demais vítimas da gozação: "E vocês ainda vão votar nele?". Votaram.
Agora, ao congestionamento somou-se uma armadilha quase no fim do percurso: o túnel sob a praça Roosevelt está sem iluminação sei lá há quanto tempo. O motorista vem da forte luminosidade do trecho imediatamente anterior e, de repente, cai no breu. Pode, fácil fácil, perder o controle do carro.
Em um país civilizado, jamais alguém ousaria deixar sem iluminação um ponto de tanto movimento como aquele, a não ser eventualmente por algumas horas para reparos de emergência. Já em São Paulo, fica o tempo que for necessário para a gente se acostumar, como se acostumou com os congestionamentos.
Podiam, ao menos, providenciar uma placa que dissesse mais ou menos assim: "Tolinhos, vocês vão mergulhar nas trevas logo adiante. Não digam que não avisamos".
Ou, já que o velho e bom Duda Mendonça está de volta à cidade, poderiam pedir a ele mais uma gozação como a daquele cartaz de 1996. Baiano é que sabe levar a vida.


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