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São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 2003

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DOMINÓ EM HONG KONG

A crise política em Hong Kong, nascida de protestos contra uma nova legislação anti-subversiva, aprofunda-se com velocidade surpreendente. Em pouco mais de duas semanas, o governo, que de início anunciava disposição para implantar as mudanças a despeito de centenas de milhares de manifestantes, não apenas teve de rever essa posição como está agora bastante acuado.
Primeiro, a administração viu-se obrigada a suspender a votação da lei, considerada a maior ameaça às liberdades civis desde que o território foi devolvido pelo Reino Unido à China, há seis anos. O gesto revelou-se insuficiente. Desde então, dois ministros já perderam seus cargos.
Acossado por rejeição popular sem precedentes, o administrador de Hong Kong, Tung Chee-hwa, anunciou ontem uma rodada de consultas públicas a respeito da lei, que estabelece prisão perpétua para envolvidos em atividades ditas subversivas, libera buscas policiais sem autorização da Justiça e permite colocar na ilegalidade grupos ligados a organizações banidas da China.
Analistas consideram incerta a permanência de Tung, cobrado também pelo desempenho insatisfatório da economia e pela lentidão no combate à epidemia de Sars -a síndrome respiratória aguda grave matou cerca de 300 pessoas em Hong Kong. O administrador, cujo mandato termina em 2007, deve viajar neste final de semana para discutir o impasse com as autoridades de Pequim, sua base de sustentação.
Mais do que o futuro de Tung, a incógnita é o caminho a ser tomado pela ditadura chinesa diante do movimento pró-democracia que ganha força em Hong Kong. No cenário otimista, Pequim manterá o compromisso assumido à época da devolução -"um país, dois sistemas"-, recuando da legislação restritiva e estimulando reformas no governo. Lamentavelmente, existe também a hipótese de repressão aos protestos, na tentativa de evitar que o exemplo de liberdade espalhe-se pela China.


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