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DOMINÓ EM HONG KONG
A crise política em Hong Kong,
nascida de protestos contra
uma nova legislação anti-subversiva,
aprofunda-se com velocidade surpreendente. Em pouco mais de duas
semanas, o governo, que de início
anunciava disposição para implantar
as mudanças a despeito de centenas
de milhares de manifestantes, não
apenas teve de rever essa posição como está agora bastante acuado.
Primeiro, a administração viu-se
obrigada a suspender a votação da
lei, considerada a maior ameaça às liberdades civis desde que o território
foi devolvido pelo Reino Unido à
China, há seis anos. O gesto revelou-se insuficiente. Desde então, dois
ministros já perderam seus cargos.
Acossado por rejeição popular sem
precedentes, o administrador de
Hong Kong, Tung Chee-hwa, anunciou ontem uma rodada de consultas
públicas a respeito da lei, que estabelece prisão perpétua para envolvidos
em atividades ditas subversivas, libera buscas policiais sem autorização
da Justiça e permite colocar na ilegalidade grupos ligados a organizações
banidas da China.
Analistas consideram incerta a permanência de Tung, cobrado também pelo desempenho insatisfatório
da economia e pela lentidão no combate à epidemia de Sars -a síndrome respiratória aguda grave matou
cerca de 300 pessoas em Hong Kong.
O administrador, cujo mandato termina em 2007, deve viajar neste final
de semana para discutir o impasse
com as autoridades de Pequim, sua
base de sustentação.
Mais do que o futuro de Tung, a incógnita é o caminho a ser tomado
pela ditadura chinesa diante do movimento pró-democracia que ganha
força em Hong Kong. No cenário
otimista, Pequim manterá o compromisso assumido à época da devolução -"um país, dois sistemas"-,
recuando da legislação restritiva e estimulando reformas no governo. Lamentavelmente, existe também a hipótese de repressão aos protestos, na
tentativa de evitar que o exemplo de
liberdade espalhe-se pela China.
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