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ELIANE CANTANHÊDE
Ataque e defesa
BRASÍLIA - Ontem, uma pressão daqui, outra dali. Hoje, uma concessão
aqui, outra ali. Amanhã, mais pressão, mais concessão. É o governo tentando agradar a todos ao mesmo
tempo na reforma da Previdência.
O Judiciário ganhou na integralidade (aposentadoria igual a salário
da ativa) e na paridade (reajuste de
ativos igual a de inativos), mas perdeu no subteto estadual. Em vez de
cerca de 90% do salário de ministro
do Supremo, "só" 75%.
O presidente do tribunal, Maurício
Corrêa, chia, mas pode dormir tranquilo. Não só pelas muitas aposentadorias mas pelas vitórias na negociação. Magistrados e juízes nos Estados, porém, vão continuar bem acordados e pensando: "O Corrêa salvou
a pele deles e deixou a gente na mão".
Os governadores conseguiram reverter integralidade e paridade para
os futuros servidores, reduziram o
subteto do Judiciário e ainda ganharam lasquinhas na reforma tributária. Mas eles têm caixas apertados,
bons motivos e uma disposição juvenil para pressionar o Planalto. Pensando: "A qualquer hora o governo
deixa a gente na mão de novo".
A cúpula da CUT, já satisfeita antes
mesmo do acordão, ou "recuo", agora está ainda mais satisfeita. Integralidade e paridade mantidas, uau!
Mas as bases vão defender as pensões.
O teto de isenção baixou de R$ 2.400
para R$ 1.058. Vem mais pressão por
aí para aumentar de novo. Pensando: "Os peixes graúdos se deram bem,
e as velhinhas é que ficaram na
mão".
Além deles -juízes e magistrados
nos Estados mais os defensores das
velhinhas no país inteiro-, quem
anda chiando são líderes partidários,
reclamando do recuo do recuo. Ainda bem que a reforma dos militares
ficou para depois. Outra batalha.
Enfim, o texto está pronto de novo,
mas, na verdade, não está pronto de
novo. Ainda tem muito chão, pressão
e concessão por aí. A única novidade
é que Gushiken (Comunicação) saiu
da toca e se uniu a Palocci (Fazenda)
para salvar a reforma. Ou seja: o governo reforçou sua defesa.
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