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São Paulo, sexta-feira, 18 de julho de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Ataque e defesa

BRASÍLIA - Ontem, uma pressão daqui, outra dali. Hoje, uma concessão aqui, outra ali. Amanhã, mais pressão, mais concessão. É o governo tentando agradar a todos ao mesmo tempo na reforma da Previdência.
O Judiciário ganhou na integralidade (aposentadoria igual a salário da ativa) e na paridade (reajuste de ativos igual a de inativos), mas perdeu no subteto estadual. Em vez de cerca de 90% do salário de ministro do Supremo, "só" 75%.
O presidente do tribunal, Maurício Corrêa, chia, mas pode dormir tranquilo. Não só pelas muitas aposentadorias mas pelas vitórias na negociação. Magistrados e juízes nos Estados, porém, vão continuar bem acordados e pensando: "O Corrêa salvou a pele deles e deixou a gente na mão".
Os governadores conseguiram reverter integralidade e paridade para os futuros servidores, reduziram o subteto do Judiciário e ainda ganharam lasquinhas na reforma tributária. Mas eles têm caixas apertados, bons motivos e uma disposição juvenil para pressionar o Planalto. Pensando: "A qualquer hora o governo deixa a gente na mão de novo".
A cúpula da CUT, já satisfeita antes mesmo do acordão, ou "recuo", agora está ainda mais satisfeita. Integralidade e paridade mantidas, uau! Mas as bases vão defender as pensões. O teto de isenção baixou de R$ 2.400 para R$ 1.058. Vem mais pressão por aí para aumentar de novo. Pensando: "Os peixes graúdos se deram bem, e as velhinhas é que ficaram na mão".
Além deles -juízes e magistrados nos Estados mais os defensores das velhinhas no país inteiro-, quem anda chiando são líderes partidários, reclamando do recuo do recuo. Ainda bem que a reforma dos militares ficou para depois. Outra batalha.
Enfim, o texto está pronto de novo, mas, na verdade, não está pronto de novo. Ainda tem muito chão, pressão e concessão por aí. A única novidade é que Gushiken (Comunicação) saiu da toca e se uniu a Palocci (Fazenda) para salvar a reforma. Ou seja: o governo reforçou sua defesa.


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