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CLÓVIS ROSSI
Inacreditável
SÃO PAULO - Se eu fosse justo, doaria boa parte do meu salário para o governo. Afinal, o atual governo é, para
parafrasear José Simão, o "governo
da coluna pronta".
Ninguém precisa se preocupar em
buscar argumentos. Eles vêm prontinhos, quentinhos, como se vê agora
no caso da medida provisória que dá
ao cargo de presidente do Banco Central o status de ministro.
Qualquer leitor, mesmo o mais distraído, só pode tirar uma conclusão: é
confissão de culpa. Exatamente na
hora em que o atual presidente do BC
está sob investigação do Ministério
Público, vem uma MP e joga qualquer ação judicial contra Henrique
Meirelles para o STF (Supremo Tribunal Federal).
Não impede eventual punição, como é óbvio, mas torna o processo suficientemente tortuoso para dificultar o seu andamento.
Destrói, ao mesmo tempo, toda a linha de defesa em favor da autonomia do BC. Quem pediu e obteve a
proteção de um padrinho, no caso o
ministro da Fazenda, Antonio Palocci, fica devedor para o resto da vida e
perde a capacidade de tomar decisões
autônomas.
Desmoraliza-se, por fim, o instrumento da medida provisória. A
Constituição determina que ela só
deve ser utilizada em casos de "relevância e urgência". Nem por mágica
vai-se conseguir demonstrar uma ou
outra para o, digamos, habeas corpus
preventivo em favor de Meirelles.
É evidente que, muito possivelmente, o Congresso aprovará a MP, porque se transformou em mero apêndice do Executivo.
Tudo somado, aumenta a suspeição. Em um país naturalmente inclinado -com montanhas de razão-
a desconfiar de suas autoridades, a
MP apenas fará com que o distinto
público imagine que há muitas outras denúncias, bem mais cabeludas,
além das que já surgiram contra o
presidente do BC.
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