São Paulo, quarta-feira, 18 de agosto de 2004

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CARLOS HEITOR CONY

Deitando e rolando

RIO DE JANEIRO - Um depoimento pessoal sobre os conselhos de redação, que ali por volta dos anos 70/80, graças à eficiente militância petista no meio jornalístico da época, tentaram tomar o poder nos jornais e revistas. É evidente que havia um pretexto nobre, os salários baixos, que tornavam as greves recorrentes, não precisando haver uma crise específica para um confronto com as empresas.
O dono de uma grande revista, pressionado por amigo, aceitou discutir com uma delegação do PT um acordo para evitar a paralisação de suas redações e oficinas. Recebeu os rapazes que traziam a proposta detalhada de um conselho bem parecido com o atual que agora se pretende impor.
Os conselheiros teriam direito de proposta e veto sobre a capa das revistas, a oportunidade, o tamanho e os custos de cada matéria, a linha editorial de cada seção, a escolha de fotos e equipes. E mais: teriam acesso à contabilidade da empresa, modificando salários, propondo admissões e demissões, enfim, tomando o poder de fato, deixando à empresa tão-somente as contas a pagar, os impostos e juros, essas coisas mofinas do vil dinheiro.
Na ocasião, a revista principal do grupo preparava-se para fazer uma grande matéria sobre a Amazônia, deslocaria repórteres, fotógrafos e veículos para descer os rios Negro e Solimões até a formação do Amazonas e a sua foz no Atlântico.
Tal matéria, que já estava em execução, seria suspensa. Em seu lugar, e com os recursos que ela gastaria, seria feita uma série de reportagens sobre o ABC paulista, dando ênfase ao movimento sindical, que, naquela época, era um fato jornalístico importante, mas estava sendo coberto com os atos e fatos de cada semana.
Vinte anos atrás, a turma do PT, bem antes de tomar o poder da máquina pública, já desejava tomar o poder nos jornais para deitar e rolar.


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