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CARLOS HEITOR CONY
Deitando e rolando
RIO DE JANEIRO - Um depoimento pessoal sobre os conselhos de redação, que ali por volta dos anos 70/80,
graças à eficiente militância petista
no meio jornalístico da época, tentaram tomar o poder nos jornais e revistas. É evidente que havia um pretexto nobre, os salários baixos, que
tornavam as greves recorrentes, não
precisando haver uma crise específica
para um confronto com as empresas.
O dono de uma grande revista,
pressionado por amigo, aceitou discutir com uma delegação do PT um
acordo para evitar a paralisação de
suas redações e oficinas. Recebeu os
rapazes que traziam a proposta detalhada de um conselho bem parecido
com o atual que agora se pretende
impor.
Os conselheiros teriam direito de
proposta e veto sobre a capa das revistas, a oportunidade, o tamanho e
os custos de cada matéria, a linha
editorial de cada seção, a escolha de
fotos e equipes. E mais: teriam acesso
à contabilidade da empresa, modificando salários, propondo admissões
e demissões, enfim, tomando o poder
de fato, deixando à empresa tão-somente as contas a pagar, os impostos
e juros, essas coisas mofinas do vil dinheiro.
Na ocasião, a revista principal do
grupo preparava-se para fazer uma
grande matéria sobre a Amazônia,
deslocaria repórteres, fotógrafos e
veículos para descer os rios Negro e
Solimões até a formação do Amazonas e a sua foz no Atlântico.
Tal matéria, que já estava em execução, seria suspensa. Em seu lugar, e
com os recursos que ela gastaria, seria feita uma série de reportagens sobre o ABC paulista, dando ênfase ao
movimento sindical, que, naquela
época, era um fato jornalístico importante, mas estava sendo coberto
com os atos e fatos de cada semana.
Vinte anos atrás, a turma do PT,
bem antes de tomar o poder da máquina pública, já desejava tomar o
poder nos jornais para deitar e rolar.
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