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POLÍCIA BRASILEIRA
Escutas telefônicas feitas pelo
Ministério Público em investigação sobre o contrabandista Roberto Eleutério da Silva revelam, mais
uma vez, como a corrupção está incrustada em órgãos de segurança. As
gravações indicam que estaria instalada em setores da polícia paulista
uma quadrilha voltada para extorsão, recebimento de propinas, proteção ao contrabando e roubo de cargas. Além disso, o contrabandista investigado, que contava com uma frota de 300 caminhões, manteria mais
de cem agentes públicos em sua folha de pagamento, segundo a CPI da
Câmara sobre a pirataria.
Ainda que as investigações sejam
um bom sinal, é difícil considerar esses problemas como fatos isolados.
Eles apenas confirmam a percepção,
já difundida na sociedade, de que as
fronteiras entre os agentes do crime e
os da lei são cada vez mais fluidas.
Violentas, desaparelhadas, mal instruídas, mal remuneradas e pouco
controladas pelos governantes, as
polícias acabam abrigando funcionários que atuam autonomamente e
tiram proveito de ações criminosas.
Certamente a instituição policial
não pode ser encarada como uma espécie de ilha de ineficiência num país
em que tudo o mais funcionaria
bem. Ela é fruto de uma sociedade
com uma longa história de autoritarismo e desigualdades, na qual as elites com frequência consideram-se
acima das leis. Nesse país que ainda
traz as marcas da escravidão, a vigilância e a repressão estão tradicionalmente voltadas para o controle das
classes pobres, vistas como foco potencial de desordem e criminalidade.
Procurar compreender os fatores
históricos, no entanto, é apenas um
ponto de partida. Com todas as assimetrias persistentes, a sociedade
brasileira tem evoluído no sentido da
adoção de padrões democráticos e
republicanos, tendo ganhado crescente relevo a noção de cidadania. É
nessa perspectiva modernizadora
que uma ampla reforma das polícias
deve se enquadrar. Caso contrário, as
forças de segurança cada vez mais
serão vistas pelos cidadãos como
fonte de ameaça e não de proteção.
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