|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
A fúria dos ricos
SÃO PAULO - A fúria de norte-americanos e europeus com o que aconteceu em Cancún, na 5ª Conferência
Ministerial da Organização Mundial
do Comércio, é muito maior do que
eu supunha. É evidente que tudo pode não passar de uma primeira e passional reação ao inédito episódio de
países pobres conseguirem bloquear
a agenda dos ricos.
O fato é que há, nas próprias entranhas da OMC, quem tema que a
União Européia e os Estados Unidos
passem a menosprezar a entidade. A
Folha ouviu até a avaliação de que
ela pode passar a ser tratada como a
Unctad (Conferência das Nações
Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento), uma espécie de patinho
feio no mundo das siglas globais.
Aqui, um parêntesis: tenho o maior
respeito pelo secretário-geral da Unctad, o embaixador brasileiro Rubens
Ricupero, e pelo trabalho que a entidade que dirige tem feito nos últimos
anos tanto na qualificação de países
pobres para comércio e desenvolvimento como na análise de fenômenos
ligados ao temas de que cuida.
Ainda assim, o fato é que a Unctad,
talvez por ser "desenvolvimentista",
sofre o descaso dos países que já se desenvolveram.
Voltemos à OMC. Inúmeros analistas, mesmo antes do fiasco de Cancún, supunham que, se não houvesse
um avanço, poderia ocorrer uma nova explosão de acordos comerciais regionais e/ou bilaterais.
Não é uma boa hipótese para o
mundo em desenvolvimento. Nesse
caso, "o poder dos grandes jogadores
será ainda maior, e eles poderão formular novos acordos ou reescrever os
antigos em seu próprio benefício", como suspeita a jornalista canadense
Madelaine Drohan, com a experiência de quem cobriu do começo ao fim
a Rodada Uruguai (o ciclo anterior
de liberalização comercial, transcorrido entre 1986 e 1993).
Se já era essa a suspeita razoável
antes de Cancún, depois do fiasco o
cenário só pode ser pior: o dedo do
mundo rico está claramente apontando para o Brasil como o grande
responsável pela virada no jogo.
Texto Anterior: Editoriais: PROPOSTA DE DIÁLOGO Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Que país é este? Índice
|