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São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 2003

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CLÓVIS ROSSI

A fúria dos ricos

SÃO PAULO - A fúria de norte-americanos e europeus com o que aconteceu em Cancún, na 5ª Conferência Ministerial da Organização Mundial do Comércio, é muito maior do que eu supunha. É evidente que tudo pode não passar de uma primeira e passional reação ao inédito episódio de países pobres conseguirem bloquear a agenda dos ricos.
O fato é que há, nas próprias entranhas da OMC, quem tema que a União Européia e os Estados Unidos passem a menosprezar a entidade. A Folha ouviu até a avaliação de que ela pode passar a ser tratada como a Unctad (Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento), uma espécie de patinho feio no mundo das siglas globais.
Aqui, um parêntesis: tenho o maior respeito pelo secretário-geral da Unctad, o embaixador brasileiro Rubens Ricupero, e pelo trabalho que a entidade que dirige tem feito nos últimos anos tanto na qualificação de países pobres para comércio e desenvolvimento como na análise de fenômenos ligados ao temas de que cuida.
Ainda assim, o fato é que a Unctad, talvez por ser "desenvolvimentista", sofre o descaso dos países que já se desenvolveram.
Voltemos à OMC. Inúmeros analistas, mesmo antes do fiasco de Cancún, supunham que, se não houvesse um avanço, poderia ocorrer uma nova explosão de acordos comerciais regionais e/ou bilaterais.
Não é uma boa hipótese para o mundo em desenvolvimento. Nesse caso, "o poder dos grandes jogadores será ainda maior, e eles poderão formular novos acordos ou reescrever os antigos em seu próprio benefício", como suspeita a jornalista canadense Madelaine Drohan, com a experiência de quem cobriu do começo ao fim a Rodada Uruguai (o ciclo anterior de liberalização comercial, transcorrido entre 1986 e 1993).
Se já era essa a suspeita razoável antes de Cancún, depois do fiasco o cenário só pode ser pior: o dedo do mundo rico está claramente apontando para o Brasil como o grande responsável pela virada no jogo.


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