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São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 2003

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ELIANE CANTANHÊDE

Que país é este?

BRASÍLIA - Na OMC, o Brasil de Lula lidera um grupo de 23 países contra o protecionismo dos EUA e da União Européia.
Na Colômbia, Lula ofereceu o território brasileiro para um encontro da ONU com as Farc, botando o pé num país dividido entre EUA e guerrilha.
No Peru e na Venezuela, oficializou convite para integrarem o Mercosul, fortalecendo o bloco na negociação da Alca contra os EUA.
Em Nova York, pode propor que a ONU assuma o papel dos EUA de mediação no Oriente Médio.
Em Havana, em seguida, reforçará a amizade com Fidel Castro sem chegar ao ponto de prestigiar um daqueles comícios de horas e para 1 milhão de pessoas contra os EUA.
Na África, em novembro, enfatizará uma aliança mais consistente sul-sul -dos pobres e dos mais ou menos contra os ricos (logo EUA).
Nos países árabes, em dezembro, Lula estará mostrando que, enquanto os EUA guerreiam com o Iraque, o Brasil se aproxima até da Síria -alvo potencial dos americanos.
O Brasil de Lula, portanto, insiste na linha de afirmação de uma política externa "ativa" e "altiva" e de um papel de liderança não apenas na América do Sul mas entre os países pobres e "em desenvolvimento".
É nesse contexto que o governo do PT se prepara para negociar com o FMI pela primeira vez. Com duas "agravantes". No passado, o PT liderava o "fora, FMI". No presente, o argentino Néstor Kirchner tomou a dianteira na negociação "altiva". Blefou com o calote, acabou pagando os US$ 2,9 bilhões e lucrou uma redução de 4% para 3% na meta de superávit fiscal, com um refresco para investimentos. O Brasil, tão "altivo", não pode deixar por menos.
No frigir dos ovos, o que está ocorrendo não é uma guerra entre o Brasil e os EUA, ou de pobres contra ricos -até porque todos sabemos quem seriam os vencedores. Somando tudo, o Brasil está apenas se fortalecendo politicamente para arrancar vantagens economicamente. Do FMI, por exemplo. E o FMI, como tudo em volta, só faz o que os EUA querem.


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