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CLÓVIS ROSSI
Bye, bye, princípios
MADRI - Luiz Inácio Lula da Silva,
eterno candidato, era eternamente
contra a CPMF, como ele admite.
Luiz Inácio Lula da Silva, presidente, é a favor da CPMF.
Por que mudou, mudou por quê?
"Você não governa com principismo. Principismo você faz no partido quando pensa que não vai ganhar nunca as eleições. Quando vira
governo, governa em função da realidade que tem", respondeu Lula no
sábado, afundado no sofá do bar do
suntuoso hotel Palace de Madri,
onde se hospedou até ontem, quando viajou de volta.
O conceito é de um pragmatismo
cru. Por isso mesmo é também perigoso, muito perigoso. Equivale a
criar a figura dos princípios prêt-à-porter. Você vai ao supermercado
político, olha os princípios disponíveis e escolhe aqueles que lhe convêm num dado momento.
Quem muda de princípios conforme a posição que ocupa na prática não tem princípios.
É essa, digamos, elasticidade de
princípios que acaba criando o pântano que vem sendo a política nacional. Bem feitas as contas, é o
mesmo princípio, digamos, que explica o mensalão, segundo Lula.
Lembra-se da frase "o PT só fez o
que todo mundo faz no Brasil"?
Pois é. Enquanto era oposição, o PT
era contra, "por princípio", qualquer esquema parecido com o do
mensalão.
Depois que se tornou governo,
"governa em função da realidade
que tem". Qual é a "realidade que
tem"? Segundo Lula, é que todo
mundo faz (no caso, faz caixa-dois,
o que é crime, convém sempre deixar claro). Então, vão para o saco,
como se diz hoje, os princípios do
tempo em que o partido "pensava
que nunca ia ganhar as eleições".
Locupletemo-nos todos.
No tempo em que não ganhava
eleições, o PT teria crucificado
qualquer Renan Calheiros por muito menos do que se sabe hoje sobre
o Calheiros de verdade. Hoje, bye,
bye, principismo.
crossi@uol.com.br
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