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ELIANE CANTANHÊDE
Passo em falso
BRASÍLIA - Ao ultrapassar a fronteira da Itália e pisar no solo de Mônaco, o ex-banqueiro Salvatore Cacciola selou seu próprio destino e
corrigiu um erro da Justiça brasileira que o ministro Marco Aurélio de
Mello, do Supremo Tribunal Federal, vai amargar o resto da vida.
Cacciola foi solto no Brasil em
2000 quando a torcida da seleção
brasileira inteira sabia que era ser
solto num dia e fugir no outro. E,
como ele nasceu na Itália e tem cidadania italiana, não pode ser extraditado. Quer dizer, não podia.
Preso no aprazível (e caríssimo)
Mônaco, a tendência é que vá cair
atrás das grades brasileiras. Só não
se saber por quanto tempo.
A volta de Cacciola reacende as
discussões sobre a decisão de Marco Aurélio de soltá-lo e vai deixar a
Justiça brasileira na berlinda. Por
que foi solto? E por que, ao contrário, foi o único condenado na nebulosa quebra dos bancos Marka e
FonteCindam na desvalorização do
real de 1999?
O risco, no final das contas, é Mônaco extraditar, Cacciola voltar e
seguir o mesmo destino de todas
aquelas centenas de presos das operações mirabolantes da Polícia Federal: preso algumas horas, depois
solto por advogados pagos a peso de
ouro e por um habeas corpus atrás
do outro. Sem que o Brasil veja a cor
do dinheiro.
Até a semana passada, Cacciola
vivia feito nababo na Itália, passeando de moto, assistindo a jogos e
a shows, curtindo a impunidade. O
maior vexame será se, depois de extraditado, ele passar algumas horas
no xadrez e recuperar a mesma rotina. Em vez de Roma, o Rio de Janeiro, com sua praias, belas mulheres, sol o ano inteiro.
O Brasil sabe exatamente por que
lutar pela extradição, mas é preciso
saber também para quê. Para deixá-lo livre, leve e solto, como a maioria,
é melhor que fique por lá.
Nem mais em filme e em novela
os bandidos se dão mal. Especialmente se ricos -e no Brasil.
elianec@uol.com.br
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