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CARLOS HEITOR CONY
O papel que ele faz
RIO DE JANEIRO - Para ser sincero, comentar mais uma vez o caso
do presidente do Senado, absolvido
pelos seus colegas na semana passada, é um saco maior do que aquele
que Papai Noel usa no natal. Chamar os senadores que o apoiaram
de sicofantas não adianta mesmo
-nem os próprios sabem o que é e o
que faz um sicofanta.
Em nenhum momento duvidei
da absolvição e da choradeira posterior daqueles que esperavam a
condenação. Para pressionar a
maioria do Senado, faltou a mobilização popular, que foi eficiente e
decisiva no caso do impeachment
de Collor.
E por que faltou a mobilização
das ruas? O único partido com
know-how para isso seria o PT, como foi o antigo PC de outros tempos. No caso de Collor, deve-se ao
Partido dos Trabalhadores não só a
massa de documentos que alimentou o processo mas a massa de povo
que saiu às ruas. Desta vez, porém, o
PT estava do outro lado, comprometido com o governo e com os escândalos da gestão petista -da qual
a corrupção generalizada na vida
pública é uma decorrência e um
preço pelo apoio que dá ao governo.
A mídia não atinge a elite da elite,
que está se lixando para a mediocridade financeira das negociatas que
somente escandalizam a classe média. Quanto ao povão, não tomou
conhecimento daquilo que um dos
entrevistados na praça da Sé, em
São Paulo, chamou de "novela".
No dia da votação no Senado, o cidadão respondeu a uma enquete
feita por repórteres de vários jornais e emissoras de rádio e televisão. Disse que não sabia de nada,
não tivera tempo para "acompanhar" aquela novela sobre a qual
perguntavam. Trabalhava o dia todo e só podia "acompanhar" as novelas da noite -gostava muito da
Camila Pitanga. Sobre Renan Calheiros, perguntou: "Qual é o papel
que ele faz?".
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