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ELIANE CANTANHÊDE
Fichas na mesa
BRASÍLIA - O jogo, os bingos, os
caça-níqueis, como qualquer criancinha sabe, são hábitos diretamente
ligados ao que há de pior e resvalam
na criminalidade: lavagem de dinheiro, desvios de toda ordem, indução ao vício, corrosão dos bolsos
de gente humilde.
Pode-se até contrapor argumentos positivos a esses tão negativos:
há quem diga que bingos estimulam
o turismo, geram emprego e podem
ser instrumentos de desenvolvimento de determinadas regiões vocacionadas para receber gente e
oferecer prazer.
Ok. Colocados os dois lados, o que
incomoda no projeto aprovado ontem na Câmara é que, como bem
apontou o deputado José Eduardo
Cardozo (PT-SP), ele parece feito
sob encomenda para um só interesse: o dos donos.
Os instrumentos de segurança
contra a lavagem de dinheiro parecem frágeis, só para constar. A proximidade das escolas, de apenas
500 metros, é arriscada. O popular
caça-níquel, principal responsável
pela incidência do vício, pode ocupar 50% das vagas.
E a chamada contrapartida social? Bem, diz o projeto que uma
parte do bolo arrecadado vai para
saúde e educação, mas, soma daqui,
diminui dali, Cardozo chegou à
conclusão de que é um pedacinho
de nada, algo em torno de 5%. Porque, por exemplo, exclui a arrecadação com bebida, comida e shows,
que têm uma participação importante no total da bolada.
Até em linhas meio perdidas aparecem "cacos" pró-donos. Quer
ver? 80% da receita das máquinas
irá para os ganhadores, que deverão
descontar o IR do prêmio. Resultado: na prática, o dono paga 61% e fica com 40% limpinhos para ele.
Os legisladores devem legislar
para o bem comum, para a maioria,
mas o projeto aprovado ontem na
comissão, ao contrário, parece ter
um outro endereço, ou um outro interesse, bastante diverso. Olho nele! Ou melhor: olho neles!
elianec@uol.com.br
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