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VINICIUS TORRES FREIRE
Miséria, burrice e crueldade
SÃO PAULO - Tucanos e petistas dizem misérias uns dos outros. Que
querem poder demais. O poder eterno. Os dois querem. Diferença: o PT é
uma burocracia partidária mais organizada que o PSDB; os tucanos,
apesar disso, quando no poder fizeram uma coalizão fisiológica no Congresso maior que a do PT.
A gente vê tucanos e petistas reclamarem da política econômica uns
dos outros. É a mesma, com a diferença que o PT é mais linha-dura,
como aqueles motoristas amadores
que não conseguem mudar de faixa,
por medo ou inépcia. É verdade que
Lula recebeu de FHC um país quebrado. Mas em quase dois anos já
dava para ter uma idéia nova, certo?
O que interessa e continua na mesma é a burrice, a crueldade, a injustiça do Brasil. Está lá na pesquisa do
IBGE: 28% dos brasileiros vivem em
famílias em que a renda por cabeça
não passa de meio salário mínimo.
R$ 120 por mês, R$ 4 por dia. Dá para
pegar dois ônibus em São Paulo e sobram 60 centavos por dia, preço de
três pãezinhos. Pior, em 12% das famílias a renda por cabeça é menor
que R$ 2 por dia. Nessa "renda" estão incluídas as bolsas-esmola.
A concentração de renda ficou na
mesma nos anos em que o país cresceu um pouco, de 1993 a 1997. Nos
anos de estagnação, a partir de 1999,
a distribuição de renda melhorou,
mas só porque o ricos ficaram mais
pobres -os pobres não têm como ficar ainda mais miseráveis.
Não fosse a bolsa-esmola a situação seria pior. A depender da renda
do trabalho, a miséria teria aumentado. Conclusão: não há trabalho
para os pobres, cresça ou não a economia. As favelas crescem; 28% das
casas em que a renda total das pessoas não passa de R$ 240 não têm
água de fonte insuspeita; mais da
metade não tem esgoto ou fossa séptica. Água limpa, comida, um médico de bairro, um trabalho que gente
sem instrução possa fazer (construção civil, de casa e esgoto) seria o programa mínimo de qualquer governo.
O que se ouve sobre isso? Nada.
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