São Paulo, segunda-feira, 18 de novembro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Os três grandes

RIO DE JANEIRO - Dentre os primeiros movimentos do presidente eleito, nesta ainda lua de mel com a mídia e com a própria nação, que dele exige grandes coisas além da esperança, destaca-se a visita que fez, há dias, a três personalidades que integram o nosso Olimpo intelectual e cívico.
Lula visitou Evandro Lins e Silva, Celso Furtado e Raymundo Faoro, este internado num hospital do Rio. Como disse Márcio Moreira Alves, em sua coluna diária, os três deveriam ser tombados e expostos à visitação pública. Por vários motivos, estão acima da oferta feita por aquilo que chamam de "recursos humanos".
O gesto de Lula foi uma homenagem e, ao mesmo tempo, uma declaração de princípios. Pudesse ele formar seu primeiro escalão com homens assim. Os três passaram pela vida pública de forma brilhante, inesquecível, e, apesar dos anos e lutas que viveram, continuam atuando no campo intelectual como referências obrigatórias do direito, da economia, da luta pelos direitos civis.
Tenho o privilégio de ser amigo e colega dos três, numa convivência que me emociona e ensina. Evandro e Celso estão em atividade, são procurados diariamente por estudiosos daqui e do exterior. Pertencem à turma dos mais assíduos às sessões e conferências da Academia Brasileira de Letras.
Evandro defendeu há pouco José Rainha, saindo da ABL depois da sessão, indo ao Espírito Santo, ganhando a ação e voltando no dia seguinte para nova sessão. Celso teve agora lançado na China o seu clássico "Formação Econômica do Brasil" e continua em atividade, sendo uma das vozes mais autorizadas da realidade nacional.
Raymundo Faoro continua adoentado, mas está escrevendo seu livro sobre Vieira, que virá somar-se aos dois clássicos que honram a sua bibliografia, "Os donos do poder" e o livro sobre Machado de Assis.
Já tivemos presidente eleito que preferiu visitar frei Damião.



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