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CARLOS HEITOR CONY
A descoberta da pólvora
RIO DE JANEIRO - Um funcionário da ONU passou uns dias no Brasil (acho que ficou apenas no Rio) e
fez um relatório sobre a onda de
violência que sofremos.
Descobriu brilhantemente a pólvora: a nossa polícia está desaparelhada para enfrentar o crime. Gente
mal paga, sem instrução e equipamentos adequados, falta de condições técnicas e táticas para combater a marginalidade das grandes cidades etc. etc.
Nenhuma novidade no diagnóstico. Mas quem vive na zona do
agrião sabe que o problema é mais
complexo, mesmo sem mencionar
as razões socioeconômicas, que
eram o argumento preferencial da
maioria dos analistas.
A morosidade do Judiciário é
uma das causas que alimentam tanto o crime organizado como o crime
desorganizado. O critério das condicionais é falho, o bandido, quando
é preso e julgado, em pouquíssimo
tempo recebe a condicional, que o
devolve às ruas e ao crime.
Outro fator que, embora secundário, colabora na desmoralização
policial é parte da imprensa, que
guarda dos tempos do regime militar o ressentimento pelas violências daquele período: chamar o ladrão para se livrar do guarda.
Nesta semana, um soldado foi
executado nas ruas do Rio. Segundo
um jornalista, ele estava sendo pago
pela sociedade para isso mesmo:
morrer. Li num jornal que o policial
morto no helicóptero da própria
polícia foi atingido por arma disparada por outro policial.
A mídia mostra diariamente o arsenal à disposição dos traficantes,
mais sofisticado e letal que o da polícia. No entanto -ainda segundo a
mídia-, nenhuma daquelas armas
dispara uma única bala perdida.
A velhinha que estava vendo televisão na sala, a criança na carteira
da escola, foram mortas por balas
perdidas das armas policiais.
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