São Paulo, sexta, 18 de dezembro de 1998

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O micro engole o macro?

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - O Ministério do Desenvolvimento está ficando de bom tamanho: leva um ministério já pronto, o principal banco de fomento, bancos regionais, câmaras e secretarias de comércio exterior.
O que todos se perguntam é se o nome do titular vai corresponder a tal envergadura. Não adianta um superministério com um microministro.
Ninguém que obrigue empresários, jornalistas e pefelistas a perguntar: "Quem é esse?". E que obrigue o governo a passar 72 horas explicando: "É o fulano de tal, ligado a tal setor...".
Também não cabe um burocrata que nunca saiu do serviço público e desconhece os macetes de mercado que fizeram a glória e a ruína do favorito, Luiz Carlos Mendonça de Barros.
Nem tem cabimento fazer o contrário: nomear alguém do setor privado que não tenha a mais remota idéia de como articular os instrumentos de governo e orientar as verbas federais para o estímulo à produção. É justamente esse o propósito da pasta.
Até agora, mais do que explicitar propósitos, o governo conseguiu criar simultaneamente uma falsa expectativa e uma real cobrança do PFL por isonomia.
A expectativa: num passe de mágica, todos os problemas estariam resolvidos. As empresas voltariam a produzir, os empregos jorrariam, haveria dinheiro para tudo e todos, os desequilíbrios regionais estariam superados. A política macroeconômica, obviamente, não serviria para mais nada. E todos viveríamos felizes para sempre.
A cobrança: o guloso PFL faz questão de compensar tanto poder e tanta mágica com ministérios bem mais concretos e cheios de vagas nos Estados. Manteria Previdência Social e Minas e Energia, agregaria Ciência e Tecnologia, ganharia uma superestatal... Faria miséria, enfim.
As conversas e negociações avançam rapidamente. E, quanto mais rápido, melhor mesmo para Fernando Henrique Cardoso e para o seu segundo mandato.
Nesse caso, o tempo é inimigo da perfeição. Quanto mais passa, mais aumenta o risco de um novo Mirin.



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