São Paulo, sexta, 18 de dezembro de 1998

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Cassados e bombardeados

LUIZ CAVERSAN

Rio de Janeiro - Um deputado oferece suborno a colegas em nome do filho do governador do Estado. As conversas são gravadas, a autenticidade das vozes é comprovada, o deputado sofre um processo e tem seu mandato cassado.
Das duas, uma: ou o deputado é um tremendo azarado e caiu numa armadilha ou trata-se de um "laranja" que está pagando sozinho um "pato" que não é só seu.
Explicando melhor: o governo do Estado do Rio queria privatizar o serviço de água e esgoto do Rio de qualquer maneira. Fez de tudo para conseguir vender a companhia que cuida disso antes do fim do mandato.
A pressa e os moldes da proposta de venda despertaram suspeita de todo lado. Tanto que, durante a eleição, os dois principais concorrentes ao posto ainda ocupado por Marcello Alencar -Anthony Garotinho, o vencedor, e Cesar Maia- eram radicalmente contra a privatização que se estava fazendo.
Também o presidente da Assembléia Legislativa, deputado Sergio Cabral, do mesmo partido do governador, o PSDB, se levantou contra.
O embate chegou a um ponto em que a Assembléia do Estado aprovou um projeto de lei que impedia a venda. O governador tentou vetar o projeto e seu ato a votação. Aí entraram o deputado Aluizio de Castro (PPB) e suas conversas gravadas.
Conforme as fitas divulgadas, ele teria oferecido quantias entre R$ 70 mil e R$ 100 mil para que três outros parlamentares votassem a favor do veto do governador. Dizia estar falando em nome do filho do governador e secretário de Estado Marco Aurélio Alencar, que nega. Foi instaurado um processo e o deputado acabou perdendo o mandato.
Permanece a esclarecer, portanto, a eventual participação do secretário e filho do governador no episódio.
Se ele não tem nada a ver com a confusão, que procure pôr as coisas em pratos limpos e processe o deputado já cassado.
Esse, ao que tudo indica, fez tudo errado e se deu mal sozinho.

E por falar em "laranjas": em que pese tudo o que se possa dizer contra Saddam Hussein, os iraquianos estão pagando pelo fato de Bill Clinton estar com a corda no pescoço.



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