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A gestão dos hospitais públicos
RAUL CUTAIT
É desafiante a mudança de paradigmas administrativos atrelados à lógica do setor público que se mostram pouco eficientes e eficazes
O ANO de 2007 apenas começa e
traz consigo alguns problemas
crônicos relacionados com o
setor público da saúde, responsável
pelo atendimento de quase 80% dos
brasileiros. Entretanto, chega gerando esperança e estimulando reflexões
e ponderações, tendo em vista o cenário atual, com novos governantes e
novos compromissos.
Desde a constituição do SUS (Sistema Único de Saúde), em 1988, houve
consideráveis avanços em diversas
áreas das atenções de saúde no nosso
país, embora o objetivo de assistência
com universalidade e eqüidade ainda
esteja longe de ser alcançado, em decorrência da clássica tríade: financiamento insuficiente, gestão ineficaz e
treinamento inadequado de recursos
humanos.
Talvez a área mais difícil de conseguir importantes mudanças do perfil
de atendimento seja a hospitalar
-responsável por 11,5 milhões de internações/ano e 1,5 milhão de cirurgias/ano-, na qual o momento e as
condições do atendimento (acesso e
qualidade) podem fazer a diferença
entre a cura e a paliação, o sofrimento
e o lenimento, a vida e a morte.
Os recursos econômicos disponibilizados pelos três níveis de poderes
para o atendimento hospitalar são insuficientes para o custeio e, mais do
que isso, não contemplam os necessários investimentos para modernização dos hospitais e incorporação de
novas tecnologias diagnósticas e terapêuticas, bem como para o treinamento continuado dos profissionais
de saúde, figuras-chave do sistema e
cujas atitudes e decisões afetam os resultados e os custos do atendimento.
Se a busca por mais financiamento
é infindável, não menos desafiante é a
mudança de alguns paradigmas administrativos atrelados à lógica do setor
público e que vêm se mostrando, ao
longo do tempo, pouco eficientes e
eficazes. Refiro-me, especialmente,
ao modelo da administração direta,
que precisa ser reavaliado, uma vez
que tem se mostrado pouco capaz de
incorporar modernas práticas gerenciais que, rotineiras no setor privado,
permitem gerar aumento de produtividade, racionalização de custos e melhoria do atendimento médico.
Fórmulas alternativas, como a das
OSs (Organizações Sociais), implantada em alguns hospitais de São Paulo, em que instituições de caráter filantrópico fazem a gestão de alguns
hospitais públicos, devem ser melhor
conhecidas e ampliadas.
Desde o início da implementação
das OSs, em 1998, observa-se um
constante amadurecimento de um
modelo que, de forma quase que inusitada no setor, vem sendo submetido
a contínuo processo de avaliação, com
o controle rígido do Estado.
Segundo dados da Secretaria da
Saúde, hospitais administrados por
OSs apresentam um aumento de 37%
de produtividade com uma diminuição de custos de 25% em relação
àqueles geridos em regime de administração direta.
Uma das restrições relacionadas à
expansão das OSs é não encontrar
instituições filantrópicas aptas e dispostas a participar dessa proposta.
Assim, torna-se necessário debater
outras alternativas, tais como a controvertida, mas não absurda, contratação da iniciativa privada para executar a gestão de hospitais públicos.
O apoio de fundações privadas de
direito público para hospitais de
grande porte ou ligados a universidades não pode ser descartado, pois elas
se mostraram úteis, desde que bem
gerenciadas.
É preciso encontrar novos caminhos e aprimorar os que trazem melhorias. Contudo, quaisquer que sejam os modelos administrativos adotados, é imprescindível que sejam
respeitados os princípios e a lógica do
SUS e que o Estado não deixe de exercer suas funções precípuas de planejador, normatizador e controlador do
sistema, visando o mais profundo respeito às instituições públicas e aos recursos nelas aplicados, em prol de
atendimento digno da população.
RAUL CUTAIT, 56, cirurgião gastrenterologista, é professor associado do Departamento de Cirurgia da Faculdade
de Medicina da USP e membro da Academia Nacional de
Medicina. Foi secretário da Saúde do município de São
Paulo (gestão Paulo Maluf).
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