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FERNANDO RODRIGUES
Obama e o PT
BRASÍLIA - Barack Obama toma
posse amanhã e a onda obamista
parece ter contaminado os petistas.
Logo depois da vitória do democrata na eleição presidencial dos EUA,
o PT ofereceu uma análise no boletim distribuído pela sigla na Câmara dos Deputados.
Foi um relato do deputado petista Nilson Mourão, do Acre, enviado
aos EUA para assistir ao processo
eleitoral. O acreano não é propriamente uma estrela do establishment do PT, mas sua avaliação é um
denominador comum na legenda.
Em texto benevolente com o norte-americano, Mourão pontifica:
"Barack Obama tem luz própria, carisma, simpatia, competência, liderança, qualidades que se manifestam em 16 meses de campanha. Ele
não é um "produto bem vendido"
nem uma "criatura" da mídia".
O relato do petista acreano aproxima-se do delírio ao afirmar que
Obama "indicou claramente a necessidade de iniciar um novo ciclo
histórico e sepultar uma era de fundamentalismo neoliberal". Não há a
evidência de que o norte-americano romperá com os cânones do livre mercado. Como escreveu o festejado comentarista da CNN Fareed Zakaria, "o novo presidente
dos EUA será julgado pela habilidade de salvar o capitalismo".
Mas a análise produzida por Nilson Mourão não é inútil. Expõe
uma dificuldade atávica dos políticos brasileiros -não só os do PT-
para entender com alguma sofisticação o cenário externo. Comportam-se como se tudo fosse um jogo
do bem contra o mal. No caso da faixa de Gaza, é nítida a simpatia dos
petistas pelos palestinos -como
Lula torcia para os guerrilheiros
vietcongues no início dos anos 70.
Daqui a alguns meses, petistas
em peso constatarão a sobrevivência do capitalismo. O PT então poderá ficar indignado com o companheiro Obama. Faz parte. Mas só
não enxerga hoje a realidade quem
prefere se entregar ao autoengano.
frodriguesbsb@uol.com.br
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