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CPI NECESSÁRIA
A desistência do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) de ocupar a presidência da Comissão de Constituição e Justiça do
Senado aparentemente arrefeceu as
pressões pela abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a rede de espionagem montada
na Bahia, que, sob a alegação de investigar sequestradores, violou o sigilo telefônico de conhecidos desafetos políticos do senador baiano.
São muitos os obstáculos à instalação de uma CPI. Isso não interessa ao
PFL, que tem em ACM um de seus
principais líderes. Seu grupo político
possui três votos no Senado e 20 na
Câmara, além de controlar um governo estadual. Em suma, o senador
comanda um partido de dimensões
médias, como o PPS ou o PDT.
Uma investigação profunda também não interessa ao governo Lula,
em parte por razões conjunturais: o
Palácio do Planalto teme que os trabalhos da CPI atrapalhem o andamento das reformas constitucionais.
Ademais, o presidente encontrou em
ACM um aliado informal, que
apoiou sua eleição no segundo turno
e até agora, aparentemente, não lhe
tem criado dificuldades políticas.
E, paradoxalmente, descobre-se
agora que alguns dos adversários de
ACM também temem uma devassa.
As conversas telefônicas, gravadas
com autorizações judiciais falsificadas, é certo, mas cujo conteúdo até
agora não foi contestado, mostram
indícios de crimes eleitorais. Daí o visível embaraço que o tema vem suscitando nos líderes do Congresso.
Ora, esse consenso pela impunidade precisa ser rompido. A existência
de tantos interesses contrários à CPI
revela por si só a importância da investigação, que não visa apenas a punir este ou aquele político, mas, sim,
a restabelecer um direito fundamental do cidadão, a inviolabilidade das
comunicações, que o aparelho policial vem seguidamente desrespeitando.
Hoje ninguém está livre de ser vítima de uma perseguição pessoal disfarçada de inquérito. É preciso que o
Congresso encare de vez esse problema e realize as mudanças legais necessárias para barrar essas fraudes.
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