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CLÓVIS ROSSI
A outra superpotência
TÓQUIO - Deu em "The New York Times", o jornal paradigmático do centro do império: "O público pode ser a
nova superpotência".
O texto, de Patrick E. Tyler, refere-
se, como é óbvio, às formidáveis manifestações do fim de semana em boa
parte do mundo -que, na opinião
do jornal, "atrasaram o momento da
guerra".
Não tenho como discordar. Há
muito tempo venho tentando mostrar que a chamada sociedade civil
organizada -ONGs, redes informais
de cidadãos antenados- está atropelando partidos políticos, governos e
universidades e se transformando no
porta-voz mais autorizado de uma
ponderável fatia do público, em especial nos países desenvolvidos.
Se se considerar que nenhum país
tem condições de opor-se de fato aos
desígnios imperiais dos Estados Unidos, a simples perspectiva de que o
clamor público expresso nas ruas (o
chamado "voto com os pés") possa de
fato brecar a guerra, ainda que temporariamente, já basta para caracterizar o movimento como a outra superpotência.
Mas atenção. Esse pessoal só consegue se organizar em grandes massas
quando se trata de ser contra alguma
coisa. Contra a guerra, agora, contra
a Organização Mundial do Comércio
em Seattle, faz quatro anos, contra o
Fundo Monetário Internacional em
Washington e em Praga etc.
Quando se trata de ser a favor de
alguma coisa, defendem bandeiras
pontuais (o ambiente, os golfinhos, a
floresta amazônica, uma infinidade
de questões). São todas importantes,
é claro, mas faltam a cola que as
mantenha juntas e a bula para colocá-las em prática.
As maiores manifestações no mundo desde a Guerra do Vietnã demonstraram que a idéia de que "um
outro mundo é possível" tem adeptos
em número portentoso. Falta definir
claramente como construí-lo.
PS - O incrível, numa hora dessas,
é que o personagem do Brasil continue sendo uma figura tão menor como Antonio Carlos Magalhães.
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