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São Paulo, quarta-feira, 19 de fevereiro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Bombas & bombas

RIO DE JANEIRO - É comum, e chega a ser sovada, a comparação da atual hegemonia militar e econômica dos Estados Unidos com a do Império Romano em sua maior fase de poder e expansão, digamos a do tempo de Tibério ou de Marco Aurélio, este último morrendo nos subúrbios de Viena, tão vasto era o império, que já dominava toda a orla do Mediterrâneo e avançava pelo interior da Europa Central.
Os romanos descobriram um recurso eficaz para submeter os povo conquistados: cortavam a mão direita dos homens, impedindo que eles pegassem lanças para atacar ou, no caso dos canhotos -que certamente já os havia-, que empunhassem escudos para se defender.
O império norte-americano não teme lanças nem escudos dos potenciais contestadores de seu poderio. Teme as bombas nucleares e as chamadas bombas de destruição em massa -metáfora mais ou menos inútil, pois, desde que descobriram a pólvora, todas as bombas, nucleares ou convencionais, são de destruição em massa, menos as bombinhas de são João e as bombas de creme ou de chocolate das confeitarias.
Os recentes adversários dos Estados Unidos não precisaram de armas químicas ou atômicas para levar o pânico aos bons norte-americanos que acreditam em Papai Noel quando ouvem Bing Crosby cantando "White Christmas". O 11 de setembro foi uma prova disso.
O argumento de Bush, insistindo na necessidade de desarmar Saddam Hussein (já tentou o mesmo com Gaddafi), abre ou justifica o perigoso precedente de invadir qualquer país e submeter qualquer povo à "pax" de Washington.
Mais ou menos na surdina, a Coréia do Norte, talvez porque não tenha petróleo, de repente aparece como ameaça ao que se convencionou chamar de "mundo livre". Amanhã, até Andorra, Luxemburgo, San Marino e, quem sabe, o Vaticano terão armas de destruição em massa. E aí, como é que ficaremos?


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