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CARLOS HEITOR CONY
Bombas & bombas
RIO DE JANEIRO - É comum, e chega a ser sovada, a comparação da atual
hegemonia militar e econômica dos
Estados Unidos com a do Império
Romano em sua maior fase de poder
e expansão, digamos a do tempo de
Tibério ou de Marco Aurélio, este último morrendo nos subúrbios de Viena, tão vasto era o império, que já dominava toda a orla do Mediterrâneo
e avançava pelo interior da Europa
Central.
Os romanos descobriram um recurso eficaz para submeter os povo conquistados: cortavam a mão direita
dos homens, impedindo que eles pegassem lanças para atacar ou, no caso dos canhotos -que certamente já
os havia-, que empunhassem escudos para se defender.
O império norte-americano não teme lanças nem escudos dos potenciais contestadores de seu poderio.
Teme as bombas nucleares e as chamadas bombas de destruição em
massa -metáfora mais ou menos
inútil, pois, desde que descobriram a
pólvora, todas as bombas, nucleares
ou convencionais, são de destruição
em massa, menos as bombinhas de
são João e as bombas de creme ou de
chocolate das confeitarias.
Os recentes adversários dos Estados
Unidos não precisaram de armas
químicas ou atômicas para levar o
pânico aos bons norte-americanos
que acreditam em Papai Noel quando ouvem Bing Crosby cantando
"White Christmas". O 11 de setembro
foi uma prova disso.
O argumento de Bush, insistindo
na necessidade de desarmar Saddam
Hussein (já tentou o mesmo com
Gaddafi), abre ou justifica o perigoso
precedente de invadir qualquer país e
submeter qualquer povo à "pax" de
Washington.
Mais ou menos na surdina, a Coréia do Norte, talvez porque não tenha petróleo, de repente aparece como ameaça ao que se convencionou
chamar de "mundo livre". Amanhã,
até Andorra, Luxemburgo, San Marino e, quem sabe, o Vaticano terão
armas de destruição em massa. E aí,
como é que ficaremos?
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