|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Tudo ou nada
LONDRES - Os Estados Unidos
partiram ontem para o tudo ou nada no enfrentamento da crise econômica, com a decisão de comprar
papéis do próprio governo, no valor
total, ao longo do ano, de impressionante US$ 1,250 trilhão. Grosso
modo, significa comprar todo o valor da economia brasileira no ano
passado, para dar uma dimensão
da coisa.
A decisão é uma confissão implícita de que fracassaram, até aqui,
todas as tentativas de desentupir o
sistema financeiro, o que impede
que o crédito volte a fluir e, por extensão, que a economia seja lubrificada como deve ser.
Fracassou a política de praticamente zerar os juros. Como não há
mais como reduzi-los e, ainda assim, é preciso baixar o custo do dinheiro, o governo compra papéis
hipotecários (entre outros), o que é
uma maneira indireta de reduzir o
custo do dinheiro para o público. A
expectativa natural é a de que a
compra maciça de títulos ligados à
hipotecas fará cair os juros cobrados por estas, permitindo que o
consumidor se refinancie a um custo mais baixo, tirando pressão do
abalado mercado imobiliário.
A decisão não é isolada. O governo britânico já havia adotado caminho bastante similar. Ambas equivalem a injetar dinheiro diretamente na veia da economia, pelo
menos na teoria. Cumpre-se, portanto, o anúncio feito no sábado pelos ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais do G20
no sentido de que fariam tudo para
reanimar a economia, "incluindo
medidas não convencionais".
A heterodoxia é igualmente a
confissão de que os colossais pacotes de socorro a bancos e outros setores da economia também não
funcionaram até agora.
Restou o tudo ou nada, que o BC
norte-americano anunciou ontem
e o britânico já vinha fazendo antes.
Mas é melhor nem perguntar o que
acontece se fracassar também a heterodoxia.
crossi@uol.com.br
Texto Anterior: Editoriais: Nem meio caminho andado
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: O pipoco do Senado Índice
|