São Paulo, quinta-feira, 19 de março de 2009

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CLÓVIS ROSSI

Tudo ou nada

LONDRES - Os Estados Unidos partiram ontem para o tudo ou nada no enfrentamento da crise econômica, com a decisão de comprar papéis do próprio governo, no valor total, ao longo do ano, de impressionante US$ 1,250 trilhão. Grosso modo, significa comprar todo o valor da economia brasileira no ano passado, para dar uma dimensão da coisa.
A decisão é uma confissão implícita de que fracassaram, até aqui, todas as tentativas de desentupir o sistema financeiro, o que impede que o crédito volte a fluir e, por extensão, que a economia seja lubrificada como deve ser.
Fracassou a política de praticamente zerar os juros. Como não há mais como reduzi-los e, ainda assim, é preciso baixar o custo do dinheiro, o governo compra papéis hipotecários (entre outros), o que é uma maneira indireta de reduzir o custo do dinheiro para o público. A expectativa natural é a de que a compra maciça de títulos ligados à hipotecas fará cair os juros cobrados por estas, permitindo que o consumidor se refinancie a um custo mais baixo, tirando pressão do abalado mercado imobiliário.
A decisão não é isolada. O governo britânico já havia adotado caminho bastante similar. Ambas equivalem a injetar dinheiro diretamente na veia da economia, pelo menos na teoria. Cumpre-se, portanto, o anúncio feito no sábado pelos ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais do G20 no sentido de que fariam tudo para reanimar a economia, "incluindo medidas não convencionais".
A heterodoxia é igualmente a confissão de que os colossais pacotes de socorro a bancos e outros setores da economia também não funcionaram até agora.
Restou o tudo ou nada, que o BC norte-americano anunciou ontem e o britânico já vinha fazendo antes.
Mas é melhor nem perguntar o que acontece se fracassar também a heterodoxia.

crossi@uol.com.br


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