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CARLOS HEITOR CONY
Clodovil
RIO DE JANEIRO - Cultivo abominável admiração por personagens polêmicos, desde que inofensivos. Clodovil Hernandes estava
entre eles. Não entendo de política
e muito menos de moda, mas acompanhei a sua vida profissional com
interesse, achando que ele sabia fazer um gênero que lhe causou críticas e insultos, mas lhe deu a popularidade responsável pela exuberante
votação que obteve para a Câmara
de Deputados.
Apesar de admirá-lo, só estive
com ele pessoalmente por ocasião
da pesquisa que realizava para produzir a novela "Dona Beja", na Rede
Manchete, da qual era superintendente da teledramaturgia. Clodovil
havia participado de um programa
sobre a vida da heroína mineira.
Herval Rossano, que seria o diretor,
apresentou-nos e fiquei deslumbrado com o conhecimento que ele
tinha sobre a personagem.
Até então, baseara-me em dois livros sobre o assunto, o de Thomas
Leonardos e o de Agripa de Vasconcelos, este último autor de clássicos
sobre os grandes mitos de Minas
Gerais, como Chico Rei e outros.
Clodovil revelou cultura não apenas sobre a vida de Dona Beja, mas
sobre a virada do século 18 para o
19, incluindo a tentativa da criação
do Estado do Triângulo Mineiro,
que colocou aquela Província em litígio com a corte de dom João 6º.
Deu informações sobre cenários,
vestuários e a intriga em si, inclu-
sive a cena em que Dona Beja, vivida por Maitê Proença, dá uma de
Lady Godiva, passeando nua em cima de um cavalo na noite mágica de
Araxá.
Como deputado, criou alguns casos próprios de seu temperamento,
mas deixou projetos interessantes,
obrigando empresas a financiar
exames precoces de câncer nos
empregados acima de certa idade, e
um outro tratando da adoção de
crianças. Para o tipo que foi, dou-lhe nota dez.
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