São Paulo, quarta-feira, 19 de abril de 2006

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PÉS PELAS MÃOS

Há dez anos, o que deveria ser uma ação para liberar uma rodovia obstruída pelos trabalhadores sem-terra em Eldorado do Carajás, no Pará, transformou-se num episódio de brutalidade policial que resultou em 19 mortos. Ao ato cruel sobrepôs-se a impunidade. Dos 155 PMs envolvidos na ação, dois foram condenados pela Justiça: o coronel Mário Colares Pantoja e o major José Maria de Oliveira. Ambos estão em liberdade, à espera de que se esgotem as opções de recursos.
Mas isso não vale como álibi para as ações criminosas que o MST insiste em perpetrar pelo país. Em lembrança aos dez anos do massacre, os líderes do movimento organizaram anteontem saques, invasões e bloqueios em 13 Estados. No Pontal do Paranapanema, dez fazendas foram invadidas. Em Pernambuco, dois caminhões foram pilhados e sete rodovias, bloqueadas.
Poucas estratégias poderiam ser mais eficientes para deslegitimar o protesto. Em vez de instar a Justiça a agir com presteza, o ato chama a atenção para a capacidade de um grupo que nem sequer existe juridicamente de articular e organizar manifestações pelo país, transformando ilícitos em ação programática.
A margem de manobra do MST para "protestar" e delinqüir cresce na mesma medida da incúria e da leniência do governo Lula. Não surpreende, nesse cenário, que associações ligadas ao MST sejam financiadas pelos cofres públicos: em 2003, receberam cerca de R$ 10 milhões.
É inaceitável o apoio governamental a organizações estruturadas para desestabilizar o Estado de Direito. Suspender os repasses é uma atitude imediata a se tomar. Outra, reintroduzir o dispositivo que pune as invasões, interrompendo por dois anos as ações de desapropriação.
Um abuso não justifica o outro. Não é com violações que se poderá reparar a chacina cometida por policiais paraenses.


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