São Paulo, quarta-feira, 19 de abril de 2006

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TENDÊNCIAS/DEBATES

No que o PTB acredita

FLÁVIO MARTINEZ

Fui conduzido à direção do Partido Trabalhista Brasileiro no dia 17 de junho de 2005 em momento dramático do cenário político brasileiro. Minha missão tem sido, desde então, buscar o consenso partidário, para, com equilíbrio, levar os petebistas a ocupar posição de relevância na discussão das grandes questões postas para o Brasil, especialmente neste ano eleitoral.


Está em curso no PTB um amplo debate sobre o mundo do trabalho e a reconstrução do nosso ideário trabalhista


A sociedade debate a necessidade de ajustes no modelo econômico vigente, que contrabalancem a rigidez no trato da taxa de juros e do câmbio, entre outros problemas, bem como espera ver consolidada uma nova dinâmica nas relações entre o capital e o trabalho. O Brasil precisa voltar a investir e criar empregos.
Sei que a política está em permanente movimento, como os fatos atestam diariamente, mas mesmo em política deve prevalecer o bom senso e a serenidade quando temos pela frente grandes escolhas e opções.
Em maio de 2005, o Partido Trabalhista Brasileiro completou 60 anos. Nosso legado é a obra de Getúlio Vargas e sua visão transformadora do mundo. Nosso desafio hoje é descomunal: compatibilizar nossa herança e nossa preocupação com o bem-estar dos cidadãos com a dinâmica de uma economia competitiva e inserida no mundo globalizado, como a nossa.
Está em curso no PTB um amplo debate sobre os conceitos que envolvem o mundo do trabalho e a reconstrução do nosso ideário trabalhista, não com uma visão estática do processo histórico, mas com a preocupação de preservar direitos que devem ser preservados, aperfeiçoando mecanismos de acordo com a lógica das relações econômicas, que hoje exigem flexibilização e mobilidade.
Vamos debater, além da reforma trabalhista, a sindical e a política, entre outras. Neste momento, o partido fervilha na busca de idéias que sairão das comissões de estudo que vão desembocar em uma proposta de mudança para o Brasil. Um fato é certo: qualquer que seja o partido e seu espectro ideológico, a luta é pela construção de um Brasil menos excludente. Para nós, do PTB, a modernidade não prescinde do homem e de seus direitos, antes, se utiliza deles, rumo a uma sociedade mais igualitária.
Opções econômicas, sabemos, são construídas em ambiente político e de alianças. Os trabalhistas movem-se nesse cenário fiéis a sua história e em busca de posicionamento estratégico. Em que pese lutas e confrontos, o PTB é hoje o quarto maior partido em termos de conhecimento da população, segundo pesquisa recente do Ibope. O partido mostrou um crescimento expressivo na opinião pública, obtendo índice de 13% de aprovação, ficando atrás do PSDB (16%) e na frente do PFL (9%). Somos um partido com 42 deputados federais e quatro senadores.
Continuaremos a trilhar a mesma linha em 2006, esforçando-nos para consolidar conquistas. E lutando para construir um projeto de poder próprio, com clareza ideológica e consistência programática.
Desde 1994, na primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso, o PTB vem participando ativamente das campanhas presidenciais. E do governo. A nos unir, uma aproximação no campo das idéias. Participamos inclusive na montagem da concepção daquele governo, ajudando a definir as questões sociais e econômicas a serem priorizadas. Era uma aliança de fato. E apoiamos, também, a reeleição de FHC, mas de forma mais distante, não aceitando cargos no segundo mandato. Ficamos restritos ao apoio institucional.
A partir daí, animou-nos a idéia de partir para um projeto de poder próprio, e fazer uma aliança com o PPS e o PDT para apoiar a candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República, em 2002. Não chegamos lá, e, no segundo turno, endossamos a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva.
Na arena política, atravessamos 2005 sob o signo da reflexão, procurando assimilar os efeitos da crise política com suas conseqüentes repercussões. Por decisão de sua Executiva Nacional, o PTB desverticalizou-se.
Os acordos políticos nos âmbitos regionais devem eleger uma bancada expressiva de deputados e senadores, assim como de governadores e deputados estaduais, levando o PTB a vencer, com tranqüilidade, o desafio da cláusula de barreira. Essa disposição permanece e vem sendo reiterada a cada encontro do PTB, como ocorreu na reunião da Executiva Nacional, no mês de março, em Brasília.
A decisão de não fazer coligação com outro partido na eleição presidencial não impede o PTB de dar seu aval ao projeto de poder que mais se coadune e contemple os anseios trabalhistas.
Continuar trilhando o caminho da convergência e preservar conquistas é a aspiração dos meus companheiros de todo o Brasil. Temos consciência das dificuldades e de nossa responsabilidade. Mas não vamos abdicar do sonho de ajudar a construir uma grande nação.

Flávio Martinez é empresário e presidente nacional do PTB


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