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TENDÊNCIAS/DEBATES
O Brasil deveria adotar mandato de cinco anos?
SIM
O voto é a melhor opção
VALDIR RAUPP
AS DISTORÇÕES provocadas no
sistema eleitoral brasileiro
com o instituto da reeleição
justificam o fim desse mecanismo,
pois ele não viabiliza a rotatividade no
poder, que é a base de um Estado democrático de Direito.
Defendo a alternância do poder por
entender que é com base nesse aspecto que a sociedade pode encontrar o
caminho da transparência e da solução para os problemas que atingem
nosso país.
Além do mais, o sistema eleitoral
precisa tratar com isonomia os postulantes aos cargos executivos. Insistir
na reeleição presidencial é agravar
cada vez mais o processo isonômico e
impedir a tão propalada rotatividade
de poder.
Sou favorável ao fim da reeleição e à
ampliação do mandato presidencial
para cinco anos como forma de estimular a concorrência no processo
eleitoral em vigor. Precisamos oxigenar a política brasileira, estimulando
o surgimento de lideranças -e isso só
ocorrerá com a realização de eleições
em todos os níveis.
É oportuno mencionar que a nossa
democracia ainda é incipiente, em
virtude dos fatos históricos que marcaram a passagem do Brasil colônia
para o sistema republicano, e não temos a tradição de participação ativa
nas decisões governamentais. Ainda
vivenciamos a fase do "mutismo", para usar a expressão do educador Paulo Freire quando analisou a formação
educacional do povo brasileiro.
A implementação de mudanças nas
regras eleitorais torna-se necessária.
O fato de os governantes não se afastarem de suas funções faz surgir uma
indefinição entre as atividades vinculadas ao cargo e a agenda de campanha. Com isso, o presidente da República que deseja a recondução não
consegue separar as funções de dirigente da nação e a de um candidato.
As características de uma campanha marcada pela reeleição servem
para acirrar cada vez mais os ânimos
entre os demais concorrentes.
É evidente que a extinção da reeleição é um tema complexo. O assunto
vem sendo debatido no Congresso
Nacional após a apresentação de cerca de 12 propostas diferentes relacionadas a esse tema.
Considero um ato insensato a tese
levantada por alguns parlamentares
de não agilizar a votação da PEC (proposta de emenda constitucional) 41/
03, que já passou por todas as comissões do Senado Federal e está pronta
para ser apreciada pelo plenário.
Compreendo que um mandato de
cinco anos para presidente da República é suficiente para que o mandatário da nação possa executar as políticas públicas a que a população almeja.
O PMDB tem trabalhado em duas
frentes: uma inclui a preparação de
um candidato à Presidência da República para sairmos da posição de simples figurante; a outra se refere à reforma política e engloba a aprovação
de uma série de projetos que tramitam nas duas Casas legislativas e que
se relacionam com o fim da própria
reeleição presidencial, a implantação
do mandato de cinco anos e a fidelidade partidária.
A aprovação dessas medidas sinalizaria na perspectiva de um processo
eleitoral mais transparente para o
país e reduziria o envolvimento da
máquina administrativa com o processo eleitoral.
A priorização da reforma política
visando consolidar a democracia e
propiciar o crescimento da economia
brasileira tem sido a minha luta na
bancada do PMDB. Porém, essa discussão não prosperou com os demais
congressistas.
Pelo visto, está faltando coragem
dos governantes e do próprio Congresso Nacional para a implementação dessa reforma.
A atual legislatura terá que aprofundar o debate em torno das reformas, sobretudo a política, sob pena de
o país não avançar nos seus indicadores sociais e econômicos e seguir cada
vez mais desigual. A ordem é exercitarmos sempre a democracia. O voto
é a melhor opção para a manutenção
das instituições democráticas.
VALDIR RAUPP, 53, é senador da República pelo PMDB-RO e líder de seu partido no Senado Federal. Foi governador de Rondônia (1995-1999).
Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br
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