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CLÓVIS ROSSI
Projeto x manual
BRUXELAS - É uma pena, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se
engana ao dizer que seu governo tem,
sim, um projeto.
O PT possuía, antes de ser governo,
uma história e um difuso projeto,
consubstanciado na palavra "mudança". É verdade que a palavra serve como muleta retórica para muita
coisa. Mas, no caso do PT, ficava ao
menos subentendido, quando não
era explícito, que, uma vez no poder,
o partido mudaria o modelo econômico-social.
Contudo, ao chegar ao Palácio do
Planalto, o PT jogou fora sua história
e, em vez de um projeto, qualquer
projeto, adotou um manual básico,
um bê-á-bá de economia, aquele que
diz que, para combater a inflação, é
preciso aumentar estupidamente os
juros e que, para tranqüilizar os credores, é preciso elevar o superávit fiscal a alturas obscenas.
Manual é manual, tem lá seu valor,
mas está longe de ser um projeto. De
suas inconsistências e insuficiências o
leitor da Folha está devidamente informado pelos textos periódicos de
Luís Nassif e Paulo Nogueira Batista
Júnior. Não é preciso, portanto, descer a detalhes.
O grave nessa história não é apenas
a debilidade do manual em uso.
Mais grave ainda é o presidente pensar que tem um projeto, sem que ninguém, em seu círculo íntimo, tenha a
coragem de lhe dizer a verdade.
Ao contrário: seu ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, admite
suas limitações em assuntos econômicos, mas, não obstante, acha que
tem um projeto.
Se houvesse de fato algo parecido,
não faria o menor sentido o chefe da
Casa Civil, José Dirceu, sair por aí
pregando um pacto nacional (outra
velha e inútil muleta retórica). Quem
tem projeto não precisa de pacto.
Executa-o e seja o que Deus quiser.
É natural, portanto, que a área econômica tenha reagido irada contra a
proposta de Dirceu. Equivale a gritar
que o rei está nu. E está.
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