São Paulo, segunda-feira, 19 de maio de 2008

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Acomodação criteriosa

AS EXPECTATIVAS de inflação no Brasil continuam em elevação. As projeções de bancos e consultorias para o aumento do IPCA em 2008 já atingiram o patamar de 5%. Há seis semanas a média das estimativas limitava-se a 4,5%, que constitui o centro da meta perseguida pelo Banco Central.
É significativo que o movimento de alta das expectativas tenha continuado mesmo após o BC ter dado início, em abril, a um ciclo de elevação na taxa de juros. Esse comportamento das expectativas de inflação ocorre porque se materializou, nas últimas semanas, mais uma rodada de significativos aumentos de custos. Já não se trata do chamado choque dos alimentos, que foi particularmente agudo na virada do ano.
Embora o preço de alguns alimentos continue a incomodar, os protagonistas das pressões de custo agora são o petróleo e o aço. São protagonistas ainda mais incômodos. A comida mais cara prejudica o bem-estar, mas seu poder de propagação pelo sistema de preços é limitado. Bem distinto é o caso do petróleo e do aço: são itens que entram diretamente na composição de custos de muitos produtos.
Se o choque de custos é maior e mais incômodo, pelo lado do balanço entre oferta e demanda não têm surgido sinais alarmantes para o controle da inflação. O risco de que se configurasse uma situação de escassez de oferta já era limitado antes do início do aumento de juros -e desde então parece ter diminuído.
Dada a intensidade do choque de custos, tornou-se bem mais difícil limitar a inflação deste ano ao centro da meta (4,5%). Seria aceitável, nessas circunstâncias, conviver com uma taxa um pouco mais alta -até porque uma atitude de recusa a qualquer acomodação poderia redundar em sacrifício de investimentos, necessários para sustentar uma trajetória de crescimento sem descontrole inflacionário.


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