|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CLÓVIS ROSSI
Sem o mínimo (de decência)
SÃO PAULO - Não foi apenas o governo Lula que perdeu na votação do
novo salário mínimo. Perdeu também a decência política, que já não é
muita neste pobre país.
Salvo meia dúzia de parlamentares
que têm, de fato, um histórico de defesa de um mínimo menos indigno,
como é o caso do petista gaúcho Paulo Paim, o voto dos demais beira ou
até ultrapassa a indecência.
Os senadores da base governista
que votaram contra o governo deveriam ter a decência mínima de desligar-se do governo e devolver os cargos que eventualmente tenham no loteamento do poder.
Afinal, o presidente da República
disse que só não dava um mínimo
maior porque quebraria a Previdência. Ao votar por um mínimo maior
(ridiculamente maior, mas maior de
toda forma), esses senadores estão
automaticamente chamando o presidente de mentiroso.
E ninguém decente pode continuar
apoiando um governo que considera
publicamente mentiroso.
Na oposição, a festa da vitória é
uma das mais constrangedores cenas
explícitas de farisaísmo que já vi na
vida (e olhe, leitor, que não vi poucas
não). Essa gente toda esteve no governo desde que inventaram governo e,
portanto, é a principal responsável
pelo fato de o salário mínimo rastejar
pelo solo.
Fazer gracinha agora é de uma cara-de-pau só equiparável à do ministro Antonio Palocci, que, em 1999,
conforme documento fotográfico desta Folha, empurrava carrinho Planalto acima para demonstrar como
era importante um reajuste maior
para o mínimo, e agora é o que é.
Situação e oposição se merecem,
pois. Difícil é aturar uma e outra.
Mas, como ensinou o presidente Lula
em discurso no mesmo dia, a melhor
coisa é ficar no simples e fácil, porque
"o difícil é difícil".
Texto Anterior: Editoriais: VACINA PAULISTA Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: O conserto político Índice
|