São Paulo, sábado, 19 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CLÓVIS ROSSI

Sem o mínimo (de decência)

SÃO PAULO - Não foi apenas o governo Lula que perdeu na votação do novo salário mínimo. Perdeu também a decência política, que já não é muita neste pobre país.
Salvo meia dúzia de parlamentares que têm, de fato, um histórico de defesa de um mínimo menos indigno, como é o caso do petista gaúcho Paulo Paim, o voto dos demais beira ou até ultrapassa a indecência.
Os senadores da base governista que votaram contra o governo deveriam ter a decência mínima de desligar-se do governo e devolver os cargos que eventualmente tenham no loteamento do poder.
Afinal, o presidente da República disse que só não dava um mínimo maior porque quebraria a Previdência. Ao votar por um mínimo maior (ridiculamente maior, mas maior de toda forma), esses senadores estão automaticamente chamando o presidente de mentiroso.
E ninguém decente pode continuar apoiando um governo que considera publicamente mentiroso.
Na oposição, a festa da vitória é uma das mais constrangedores cenas explícitas de farisaísmo que já vi na vida (e olhe, leitor, que não vi poucas não). Essa gente toda esteve no governo desde que inventaram governo e, portanto, é a principal responsável pelo fato de o salário mínimo rastejar pelo solo.
Fazer gracinha agora é de uma cara-de-pau só equiparável à do ministro Antonio Palocci, que, em 1999, conforme documento fotográfico desta Folha, empurrava carrinho Planalto acima para demonstrar como era importante um reajuste maior para o mínimo, e agora é o que é.
Situação e oposição se merecem, pois. Difícil é aturar uma e outra. Mas, como ensinou o presidente Lula em discurso no mesmo dia, a melhor coisa é ficar no simples e fácil, porque "o difícil é difícil".


Texto Anterior: Editoriais: VACINA PAULISTA

Próximo Texto: Brasília - Fernando Rodrigues: O conserto político
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.