São Paulo, sábado, 19 de junho de 2004

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FERNANDO RODRIGUES

O conserto político

BRASÍLIA - Aos poucos, o presidente da República vai digerindo a sua maior derrota política até hoje -com a derrubada do salário mínimo de R$ 260 no Senado. Lula tende a seguir uma espécie de senso comum, mais ou menos assim:
1) salário mínimo - quer a Câmara resolvendo o problema econômico de maneira urgente. Espera que os deputados governistas restabeleçam o valor de R$ 260 já na semana que vem. Estará debelada a eventual turbulência nos mercados;
2) Aldo Rebelo - Lula acredita que seu ministro da Coordenação Política tenha jogado errado. Por exemplo, a negociação com as direções do PFL e do PSDB no Senado. Teve zero voto entre os pefelistas e um voto tucano.
Ainda assim, acredita que não tem como remover já o comunista do Planalto. O que o presidente pode concluir é que o PC do B, com míseros nove deputados (só seis a favor dos R$ 260), está super-representado na Esplanada. Nesse caso, pode dançar Agnelo Queiroz (Esporte);
3) José Dirceu - para Lula, trata-se de alguém com capacidade de trabalho quase inigualável, tem grande influência no PT e é um causador de problemas. Por azar ou calibragem mal feita, ou as duas coisas, o chefe da Casa Civil está desgastado.
Assim como Aldo, também não dá para expelir Dirceu agora. Mas nada impede que ambos, Dirceu e Aldo, sejam realocados para fora do Palácio do Planalto na reforma ministerial pós-eleições de outubro, possivelmente no início de 2005;
4) rearranjo - na mexida de ministros, é quase certo que o gerente do governo -seja ele quem for- terá as funções que Dirceu teve no passado. Vai mandar na máquina, distribuir cargos e liberar emendas. É possível que Dirceu se recupere e fique como foi no início do governo? Muito difícil. O tempo dirá.
Para sorte de Lula, o Congresso não votará temas relevantes nos próximos meses. A descoordenação política hibernará até dezembro. É um risco calculado. O presidente não enxerga muita opção pela frente.


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