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FERNANDO RODRIGUES
O conserto político
BRASÍLIA - Aos poucos, o presidente da República vai digerindo a sua
maior derrota política até hoje
-com a derrubada do salário mínimo de R$ 260 no Senado. Lula tende
a seguir uma espécie de senso comum, mais ou menos assim:
1) salário mínimo - quer a Câmara
resolvendo o problema econômico de
maneira urgente. Espera que os deputados governistas restabeleçam o
valor de R$ 260 já na semana que
vem. Estará debelada a eventual turbulência nos mercados;
2) Aldo Rebelo - Lula acredita que
seu ministro da Coordenação Política tenha jogado errado. Por exemplo,
a negociação com as direções do PFL
e do PSDB no Senado. Teve zero voto
entre os pefelistas e um voto tucano.
Ainda assim, acredita que não tem
como remover já o comunista do Planalto. O que o presidente pode concluir é que o PC do B, com míseros
nove deputados (só seis a favor dos
R$ 260), está super-representado na
Esplanada. Nesse caso, pode dançar
Agnelo Queiroz (Esporte);
3) José Dirceu - para Lula, trata-se
de alguém com capacidade de trabalho quase inigualável, tem grande influência no PT e é um causador de
problemas. Por azar ou calibragem
mal feita, ou as duas coisas, o chefe
da Casa Civil está desgastado.
Assim como Aldo, também não dá
para expelir Dirceu agora. Mas nada
impede que ambos, Dirceu e Aldo, sejam realocados para fora do Palácio
do Planalto na reforma ministerial
pós-eleições de outubro, possivelmente no início de 2005;
4) rearranjo - na mexida de ministros, é quase certo que o gerente do
governo -seja ele quem for- terá as
funções que Dirceu teve no passado.
Vai mandar na máquina, distribuir
cargos e liberar emendas. É possível
que Dirceu se recupere e fique como
foi no início do governo? Muito difícil. O tempo dirá.
Para sorte de Lula, o Congresso não
votará temas relevantes nos próximos meses. A descoordenação política hibernará até dezembro. É um risco calculado. O presidente não enxerga muita opção pela frente.
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