SÃO PAULO - Terminou ontem, depois de uma semana, a greve de fome do deputado petista Domingos Dutra e do fundador do PT Manoel da Conceição. Ambos são do Maranhão. Protestavam, no plenário da Câmara, contra a imposição da direção nacional, que obrigou o PT local a apoiar a reeleição de Roseana Sarney, do PMDB, ao governo do Estado. O PT mineiro teve que se submeter ao mesmo garrote: abriu mão de Fernando Pimentel em benefício do apoio ao ex-ministro Hélio Costa, também do PMDB.
A mensagem dessas intervenções é muito clara: para eleger Dilma Rousseff presidente, vale tudo.
Foi-se o tempo, no entanto, em que isso era tratado como um problema. A greve de fome dos revoltosos do Maranhão não comoveu quase ninguém. Foram folclorizados mesmo na imprensa. O caso já pertence ao cemitério da história.
O episódio, no entanto, é muito ilustrativo de um pedaço do Brasil. Sarney circulou nesta semana pelo Congresso exibindo uma antiga entrevista, na qual Manoel da Conceição o agradecia por ter conseguido, nos anos 60, uma perna mecânica.
Era uma resposta a Domingos Dutra, que, na terça, num discurso duríssimo e emocionado, havia acusado seus colegas de "entregar o PT de mão beijada para Roseana" -herdeira, segundo ele, de um "oligarca perverso, corrupto e criminoso" (assista ao discurso em: www.folha.com/1016911).
Sarney e o deputado Michel Temer, candidato a vice de Dilma, participaram da convenção do PT, no último domingo. Chamados à mesa, não receberam uma única vaia. Foram aplaudidos. À sua maneira, foi um momento histórico.
Com seu carisma característico, Temer disse, em discurso ligeiro de quatro minutos, que o "PMDB vai entrar na campanha com sua alma, e não apenas com seu raciocínio". E nós não sabíamos que o PMDB tinha o "seu raciocínio". Já a alma... Bem, talvez ela esteja estampada no recorte de jornal que Sarney exibia orgulhoso pelo Congresso.


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