São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

GUERRA LUCRATIVA

A invasão do Iraque revelou-se uma boa ocasião para beneficiar amigos da Casa Branca. Reforça as piores suspeitas a notícia de que a auditoria internacional realizada pela empresa KPMG concluiu que houve "contrabando de desconhecidas quantidades de petróleo durante os primeiros meses" da ocupação.
Embora o exame não tenha encontrado evidências de fraude no modo como o dinheiro obtido com a venda de petróleo foi despendido pela coalizão liderada pelos EUA, o fato de as autoridades norte-americanas terem atrapalhado a investigação enseja as mais graves desconfianças. Segundo a KPMG, o ex-chefe da Autoridade Provisória da Coalizão, Paul Bremer, dificultou a obtenção de documentos sobre os montantes pagos à empresa Halliburton, que, não por acaso, foi comandada pelo vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, até 2000, quando deixou sua direção para concorrer na chapa de George W. Bush. A Halliburton recebeu US$ 1,5 bilhão em contratos no Iraque.
A ação entre amigos, contudo, vai muito mais longe. Segundo levantamento divulgado em novembro passado pelo conceituado Centro para a Integridade Pública, de Washington, entre mais de 70 empresas e indivíduos até então contemplados com cerca de US$ 8 bilhões em contratos no Iraque e no Afeganistão, figuravam alguns dos principais doadores da campanha presidencial de Bush e do Partido Republicano. O favorecimento é facilitado pela dispensa de licitação. Alegando urgência, o Pentágono dispensa a concorrência que seria exigida em situações normais e, assim, está, em princípio, livre para proceder como quiser à distribuição de tarefas e de verbas.
Guerras são uma excelente oportunidade para transformar verbas públicas em lucros privados. O governo Bush parece estar levando essa máxima ao paroxismo -e nisso não deixa de assemelhar-se aos sátrapas contra os quais se bate.


Texto Anterior: Editoriais: PASSADO PERDIDO
Próximo Texto: São Paulo - Vinicius Mota: O trotskismo tranqüilo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.