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CARLOS HEITOR CONY
O aprendiz de Acácio
RIO DE JANEIRO - Durante quase oito anos, pelo menos uma vez por semana, o cronista criticava o ex-presidente FHC, acusando-o de imitar,
com inexplicável frequência, o conselheiro Acácio, aquele personagem de
Eça de Queiroz que acreditava ter
descoberto a pólvora cada vez que dizia, com pompa e em qualquer circunstância, coisas banais, que todos
sabemos. Exemplos: o todo é maior
do que a parte, dois mais dois são
quatro.
Estão acusando o atual presidente
de imitar, no pior, o ex-presidente,
que, afinal, é professor universitário e
foi considerado, em seus piores momentos, uma espécie de déspota esclarecido pelos seus áulicos.
Lula não dispõe de currículo igual,
embora seja portador de credenciais
que o levaram merecidamente à Presidência da República. Daí que não
se justifica a tendência de descobrir a
pólvora como Acácio e FHC. Semana
passada, ele centrou um de seus incontáveis pronunciamentos informando à nação que "na economia
não há mágica". Dois mais dois são
quatro mesmo.
Foi preciso chegar lá, ou seja, onde
agora está, para se certificar de que a
economia não é uma cartola de onde
um mágico de mafuá possa tirar coelhos. E diga-se, a bem da verdade:
ninguém está exigindo de Lula uma
performance dessas. Ele fica melhor
de boné do que de cartola -e de seu
boné de ex-operário ainda deve sentir o cheiro do suor de seu trabalho.
Economia não se faz com mágicas
-Lula acaba de descobrir isso-
mas ela é condicionada pela relação
articulada e harmoniosa entre o capital e o trabalho. Privilegiar o capital, como fez FHC e como Lula está
fazendo, produz exatamente o brejo
em que fomos parar.
Lula não precisa fazer mágicas.
Basta cumprir o que prometeu durante tantos anos de militância política. Ainda que consiga apenas a metade, ou menos do que a metade, já
terá sido um grande presidente.
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