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CLÓVIS ROSSI
Quando o absurdo vira verdade
SÃO PAULO - O Brasil é um país
tão absurdo que até o absurdo pode
rapidamente virar verdade.
O que parecia absurdo há um mês
era dizer que o acidente com o avião
da TAM fora um assassinato. Não
havia elementos que dessem sustentação a essa afirmação.
Agora há. Texto de Leila Suwwan,
publicado ontem pela Folha, mostra que a Anac (Agência Nacional
de Aviação Civil) promoveu um
trambique, perante a Justiça, ao dizer que era lei o que não passava de
documento interno.
Diz a repórter: "O documento,
que não tem validade legal, proíbe o
pouso de aviões com um reversor
inoperante em pistas molhadas.
Caso estivesse em vigor, teria impedido o acidente do vôo 3054 da
TAM, já que a aeronave estava com
o reversor direito inoperante, e a
pista de Congonhas estava molhada no dia".
Mais claro impossível.
Fica até difícil acreditar que uma
agência governamental encaminhe
à Justiça um estudo interno e diga
que é lei. A Justiça Federal analisava naquele momento (fevereiro) a
possibilidade de impor restrições
(que as empresas vetavam) às operações em Congonhas.
Se tamanha fraude, com o conseqüente assassinato de 199 pessoas,
não é causa suficiente para afastar
toda a diretoria da Anac, então está
se oficializando a impunidade, que
já é suficientemente avassaladora
para dispensar tal barbaridade.
Mas a Anac não é a única criminosa na história. A TAM só agora
proibiu o pouso de seus aviões com
reverso travado em dias de chuva
em Congonhas. Logo, fez roleta-russa com seus passageiros. No dia
17 de julho, havia bala na agulha e
199 foram mortos por ela.
E ainda há a Infraero: testemunhos de pilotos à polícia relatam
que a pista de Congonhas, pós-reforma, virou "um sabonete". Não é
crime fazer reforma de pista para
dar segurança a ela e entregar um
"sabonete"?
crossi@uol.com.br
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