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MAIS UM ESQUELETO
A Petrobras anunciou importantes
alterações em sua contabilidade. Não
se trata de detalhe, mas do reconhecimento de uma obrigação previdenciária que monta a R$ 5,6 bilhões.
É mais um esqueleto que sai do armário, para usar a expressão que tem
sido empregada para designar obrigações ocultas nas contas públicas.
Não há como ignorar também que,
no caso da Petrobras, o ajuste contábil é um passo importante caso se
queira privatizar a empresa. O governo federal, porém, prefere falar em
adequação das práticas contábeis da
estatal a padrões internacionais.
Na prática, como se viu há pouco
no caso do Banespa, a qualidade e o
prazo de uma privatização são afetados quando esqueletos fiscais ficam
ocultos. É portanto razoável supor
que, fazendo esse ajuste, o governo
crie condições para vender a estatal.
Seria interessante saber a magnitude e a distribuição, entre as estatais,
dos passivos ainda existentes. Aliás, a
privatização brasileira continua sofrendo de falta de transparência.
Não há um debate sobre a estratégia de privatização e reforma do Estado. O governo assume dívidas, reconhece esqueletos, negocia a antecipação de recursos para privatizações.
Mas não se prestam contas devidamente sobre os objetivos e as prioridades desse processo.
Em alguns momentos, propostas
mais ousadas surgiram no debate,
tais como a de criação de um fundo
de ativos que seria o lastro para consolidar e refundar a dívida pública.
Talvez fosse uma forma de atacar
de modo integrado os desequilíbrios
do governo, redefinindo o horizonte
de longo prazo do financiamento ao
setor público. Talvez uma operação
dessa envergadura tivesse custo menor ou efeitos mais rápidos.
Como esse tipo de debate foi silenciado, o país convive com uma incerteza permanente sobre o real valor do
patrimônio público. Incerteza que
não será necessariamente reduzida
com o registro contábil, a conta-gotas, de esqueletos como o reconhecido agora pela Petrobras.
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