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Filosofar não é solução
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - É desanimadora a entrevista concedida à Folha pelo secretário da Segurança Pública de São Paulo, Marco Vinicio Petrelluzzi.
Revela uma mentalidade excessivamente conformista para quem ocupa
uma secretaria que está no olho do furacão do Estado, na medida em que
responde pelo controle da violência.
Para o secretário, parecem ser
alheias todas as culpas pelo fenômeno
que, ao lado do desemprego, mais inquieta o paulista.
A violência teria origem em "um pico de juventude", diz o secretário. Ou
seja, enquanto não baixar a taxa hormonal da moçada, nada há a fazer.
Aumenta a violência o consumo de
crack, também associado à juventude.
Como não parece haver planos para
controlar o consumo ou o tráfico de
drogas, tampouco há o que fazer.
Por fim, a culpa seria de uma cultura da violência introjetada na sociedade, tese igualmente cara ao governador Mário Covas. Que existe tal
cultura, não cabe a mais leve dúvida.
Mas constatá-la é tarefa para acadêmicos. Ao secretário da Segurança,
caberia encontrar meios e modos de
atacar os problemas que lhe são afetos.
Tudo o que aparece na entrevista,
em termos de iniciativas que ultrapassem o mero estágio da constatação, é
a tal taxa sobre ligações telefônicas,
cujo montante serviria para equipar
tecnologicamente a polícia paulista
para que passe a fazer investigações.
Primeiro, após quatro anos e quase
10 meses de governo, já seria mais que
tempo de a administração Covas ter
algo mais a apresentar do que um mero balão de ensaio. Segundo, é tal a
gravidade do quadro na área de segurança pública que a sociedade não
parece disposta a esperar que os jovens de hoje envelheçam e tenham,
por extensão, contidos seus hormônios ou que deixem de consumir drogas pesadas.
Filosofar sobre a segurança é bom,
mas agir seria muito melhor.
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