São Paulo, Terça-feira, 19 de Outubro de 1999
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Filosofar não é solução

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - É desanimadora a entrevista concedida à Folha pelo secretário da Segurança Pública de São Paulo, Marco Vinicio Petrelluzzi.
Revela uma mentalidade excessivamente conformista para quem ocupa uma secretaria que está no olho do furacão do Estado, na medida em que responde pelo controle da violência.
Para o secretário, parecem ser alheias todas as culpas pelo fenômeno que, ao lado do desemprego, mais inquieta o paulista.
A violência teria origem em "um pico de juventude", diz o secretário. Ou seja, enquanto não baixar a taxa hormonal da moçada, nada há a fazer.
Aumenta a violência o consumo de crack, também associado à juventude. Como não parece haver planos para controlar o consumo ou o tráfico de drogas, tampouco há o que fazer.
Por fim, a culpa seria de uma cultura da violência introjetada na sociedade, tese igualmente cara ao governador Mário Covas. Que existe tal cultura, não cabe a mais leve dúvida. Mas constatá-la é tarefa para acadêmicos. Ao secretário da Segurança, caberia encontrar meios e modos de atacar os problemas que lhe são afetos.
Tudo o que aparece na entrevista, em termos de iniciativas que ultrapassem o mero estágio da constatação, é a tal taxa sobre ligações telefônicas, cujo montante serviria para equipar tecnologicamente a polícia paulista para que passe a fazer investigações.
Primeiro, após quatro anos e quase 10 meses de governo, já seria mais que tempo de a administração Covas ter algo mais a apresentar do que um mero balão de ensaio. Segundo, é tal a gravidade do quadro na área de segurança pública que a sociedade não parece disposta a esperar que os jovens de hoje envelheçam e tenham, por extensão, contidos seus hormônios ou que deixem de consumir drogas pesadas.
Filosofar sobre a segurança é bom, mas agir seria muito melhor.


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