ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Boa essa rixa do governador Itamar Franco (MG) com o presidente do BC, Armínio Fraga. Seria cômica, não fosse trágica.
Como político, Itamar ganha de dez na retórica contra Fraga, o "alienígena desinformado".
Como técnico, Fraga perde de dez também pela extravagância de sugerir em plena Nova York que os investidores estrangeiros procurem outros Estados, e não Minas.
Quem ganha são os estrangeiros. Acostumados aos rompantes de Itamar, que decretou moratória e revê contratos com setores privados, eles acabam de ser entronizados à cortante sinceridade de Fraga. Pode parecer uma grande maluquice, mas tem enorme serventia na hora de decidirem onde e como vão investir seu rico dinheirinho.
Quem paga o pato? O Estado, os empresários e o povo, essa alma penada que assombra os governantes com seus dramas e carências.
Minas tem em torno de 16,5 milhões de habitantes e um PIB (Produto Interno Bruto) estimado em R$ 74 bilhões, o terceiro no ranking no IBGE. Queiram ou não governador e presidente do BC, não vai a lugar nenhum sem capital externo. Como todos os outros.
É por isso que políticos e empresários mineiros correram a pedir explicações a Armínio Fraga e se esforçam para classificar sua frase de Nova York como "deslize" e "incidente superado". Estão enganados.
O que ele disse não só cala fundo na alma pragmática dos capitalistas como reabre o espaço presidenciável de Itamar. Além disso, quem viu os documentos da Cemig diz que são explosivos e têm mil e uma utilidades. Recolocam Itamar na mídia, dão munição contra FHC e sua tucanada e armam um bom discurso para a campanha municipal.
Lula (o de plantão), Ciro Gomes (que cresce, ou crescia, nas pesquisas) e Anthony Garotinho (que entrou na parada) não estão sozinhos para 2002.


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