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Ditadura em moda
A MORTE de uma modelo em
São Paulo em conseqüência de anorexia nervosa
reavivou discussões em torno de
medidas voltadas a evitar os efeitos trágicos da chamada "ditadura da moda" entre os jovens. A
Espanha chegou a proibir de desfilarem manequins com um índice de massa corpórea (IMC) inferior ao considerado saudável.
A anorexia é uma doença psiquiátrica grave, cujas causas não
são bem conhecidas. A taxa de
prevalência em países industrializados é de cerca de 1%. Mulheres jovens de classes sociais mais
elevadas e envolvidas com profissões ligadas ao corpo, como
modelos e bailarinas, são as vítimas preferenciais. O tratamento
é difícil, e a taxa de mortalidade a
longo prazo chega a 10%.
É difícil, num transtorno tão
complexo e freqüentemente associado a outras doenças, estabelecer uma hierarquia de causas.
O fator genético, segundo um estudo sueco recente, é preponderante em 56% dos casos.
O estímulo ambiental, porém,
também está entre as causas importantes da moléstia. Debates
públicos como o que agora se trava ajudam a conscientizar pais,
escolas, agências e produtores de
moda sobre os perigos associados ao padrão de beleza cultivado nas passarelas. É provável que
toda essa discussão redunde na
criação e no aperfeiçoamento,
nesses setores sociais, de mecanismos de prevenção da doença.
É possível, até, que a pressão
leve produtores de moda a flexibilizar o protocolo de esqualidez
que exigem de garotos e garotas.
Mas informação e conscientização é o máximo que se deveria
esperar desse debate -jamais
medidas liberticidas, como vetar
modelos "magras demais".
Seria inaceitável que, a título
de combater a "ditadura da moda" -um termo que tem validade no campo simbólico-, se instituíssem mecanismos que recendem a ditaduras de fato.
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