São Paulo, domingo, 19 de novembro de 2006

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Ditadura em moda

A MORTE de uma modelo em São Paulo em conseqüência de anorexia nervosa reavivou discussões em torno de medidas voltadas a evitar os efeitos trágicos da chamada "ditadura da moda" entre os jovens. A Espanha chegou a proibir de desfilarem manequins com um índice de massa corpórea (IMC) inferior ao considerado saudável.
A anorexia é uma doença psiquiátrica grave, cujas causas não são bem conhecidas. A taxa de prevalência em países industrializados é de cerca de 1%. Mulheres jovens de classes sociais mais elevadas e envolvidas com profissões ligadas ao corpo, como modelos e bailarinas, são as vítimas preferenciais. O tratamento é difícil, e a taxa de mortalidade a longo prazo chega a 10%.
É difícil, num transtorno tão complexo e freqüentemente associado a outras doenças, estabelecer uma hierarquia de causas. O fator genético, segundo um estudo sueco recente, é preponderante em 56% dos casos.
O estímulo ambiental, porém, também está entre as causas importantes da moléstia. Debates públicos como o que agora se trava ajudam a conscientizar pais, escolas, agências e produtores de moda sobre os perigos associados ao padrão de beleza cultivado nas passarelas. É provável que toda essa discussão redunde na criação e no aperfeiçoamento, nesses setores sociais, de mecanismos de prevenção da doença.
É possível, até, que a pressão leve produtores de moda a flexibilizar o protocolo de esqualidez que exigem de garotos e garotas. Mas informação e conscientização é o máximo que se deveria esperar desse debate -jamais medidas liberticidas, como vetar modelos "magras demais".
Seria inaceitável que, a título de combater a "ditadura da moda" -um termo que tem validade no campo simbólico-, se instituíssem mecanismos que recendem a ditaduras de fato.


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