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PALIATIVO EDUCACIONAL
Será provavelmente de pouco
efeito a portaria que baixou o
ministro da Educação, Paulo Renato
Souza. Ela determina que todos os
vestibulares tenham prova de redação com caráter eliminatório.
A portaria é uma reação a reportagens, veiculadas pelo programa dominical "Fantástico", da Rede Globo, que denunciaram a aprovação de
semi-analfabetos em processos seletivos de universidades no Estado do
Rio de Janeiro. Só que, ao alterar as
regras dos vestibulares, Paulo Renato combate o sintoma, e não a causa
do problema.
Pessoas com baixíssimo grau de
instrução se classificam em processos seletivos pela simples razão de
que algumas faculdades particulares
têm mais vagas do que candidatos.
Nesse segmento mais mercantil da
educação superior, já há algum tempo é a capacidade econômica do candidato, mais que a intelectual, que
define se ele vai ou não conseguir
uma vaga. Quem tenha dinheiro para pagar as mensalidades termina
por conseguir o seu diploma.
Trata-se de um efeito colateral do
próprio projeto do ministro Paulo
Renato. Ele corretamente diagnosticou que o Brasil amarga índices reduzidíssimos de pessoas com formação universitária. É urgente ampliar esse número. Parece também
acertado o conceito de que essa ampliação deve se dar principalmente
pela rede privada de ensino.
Todo o projeto de Paulo Renato seria irretocável se o Ministério da Educação tivesse conseguido zelar pela
qualidade e pela seriedade de todas
as escolas particulares. Não conseguiu. A expansão dos cursos foi tão
rápida e desordenada que o ministério perdeu o controle. Transformou
em universidades instituições mais
interessadas em lucrar do que em
educar. Com isso, deu-lhes autonomia para abrir e fechar cursos quando quiserem.
É contra a lógica desse tipo de ensino manter vagas "ociosas". É preciso
mais do que uma portaria para pôr
um basta à indústria do diploma.
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