São Paulo, quarta-feira, 19 de dezembro de 2001

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PALIATIVO EDUCACIONAL

Será provavelmente de pouco efeito a portaria que baixou o ministro da Educação, Paulo Renato Souza. Ela determina que todos os vestibulares tenham prova de redação com caráter eliminatório.
A portaria é uma reação a reportagens, veiculadas pelo programa dominical "Fantástico", da Rede Globo, que denunciaram a aprovação de semi-analfabetos em processos seletivos de universidades no Estado do Rio de Janeiro. Só que, ao alterar as regras dos vestibulares, Paulo Renato combate o sintoma, e não a causa do problema.
Pessoas com baixíssimo grau de instrução se classificam em processos seletivos pela simples razão de que algumas faculdades particulares têm mais vagas do que candidatos. Nesse segmento mais mercantil da educação superior, já há algum tempo é a capacidade econômica do candidato, mais que a intelectual, que define se ele vai ou não conseguir uma vaga. Quem tenha dinheiro para pagar as mensalidades termina por conseguir o seu diploma.
Trata-se de um efeito colateral do próprio projeto do ministro Paulo Renato. Ele corretamente diagnosticou que o Brasil amarga índices reduzidíssimos de pessoas com formação universitária. É urgente ampliar esse número. Parece também acertado o conceito de que essa ampliação deve se dar principalmente pela rede privada de ensino.
Todo o projeto de Paulo Renato seria irretocável se o Ministério da Educação tivesse conseguido zelar pela qualidade e pela seriedade de todas as escolas particulares. Não conseguiu. A expansão dos cursos foi tão rápida e desordenada que o ministério perdeu o controle. Transformou em universidades instituições mais interessadas em lucrar do que em educar. Com isso, deu-lhes autonomia para abrir e fechar cursos quando quiserem.
É contra a lógica desse tipo de ensino manter vagas "ociosas". É preciso mais do que uma portaria para pôr um basta à indústria do diploma.


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