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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Zôo Brasil
SÃO PAULO - "Crescimento tira
milhões das classes D e E". Era esse
o título da reportagem de Fernando
Canzian na Folha de domingo.
Com base em dados do Datafolha,
constatava que nos últimos cinco
anos, sob Lula, cerca de 20 milhões
de brasileiros passaram à classe C.
E explicava: primeiro, em decorrência da expansão de programas
sociais e previdenciários; de um
ano e meio para cá, foi sobretudo o
crescimento que elevou o consumo
dos mais pobres. Boa notícia.
Ainda que essa divisão por "classes" seja um instrumento de mercado -e não um indicador social,
mais efetivo para aferir a melhoria
estrutural das condições de vida-,
ninguém de boa-fé vai tomar um
avanço por estorvo ou coisa ruim.
Recorde-se que a era FHC também havia "incluído" uma legião de
banguelas e neocomedores de frango na fase heróica do real. A moeda
derreteu e eles voltaram a ser pó.
O Brasil tem suas manhas. O próprio Fernando Canzian, na sua coluna desta semana na Folha Online,
tratou de relacionar as boas novas
do consumo com aquilo que presenciou no sábado à noite, ao assistir a um show na Rocinha. Vale ler.
O relato da onipresença aterrorizante do tráfico basta para dissolver a convicção de que algo melhora no Brasil. Não é um caso isolado.
É só abrir o jornal ou andar pela rua
para acumular evidências diárias
do que nos afasta da vida civilizada.
Que progresso -que país é este?
Haverá muitas respostas. A que
mais me convence (e fascina) é a do
sociólogo Francisco de Oliveira,
num grande ensaio de 2003: somos
o ornitorrinco, animal improvável,
nem isso nem aquilo, meio réptil
meio mamífero, achado alegórico
para uma sociedade que não é mais
subdesenvolvida, mas tampouco se
tornou uma sociedade avançada e
decente -nem se tornará.
A figura do ornitorrinco sugere
que o progresso, entre nós, carrega
consigo conseqüências socialmente regressivas, as quais também definem nossa modernidade arrevesada. Serve ao menos como antídoto à idéia ingênua de que nos aproximamos do Primeiro Mundo no
grande varal da história universal.
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