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CLÓVIS ROSSI
Papai, manda dinheiro
ZURIQUE - O grito que está no título partiu, essencialmente, dos
mercados financeiros norte-americanos (e, antes, europeus). "Papai"
George Walker Bush atendeu, prometendo devolver algo em torno de
US$ 150 bilhões em impostos, para
evitar uma recessão.
Se vai funcionar ou não, ninguém
está seguro. Tomara que funcione,
porque recessão nos Estados Unidos é sempre um problema para o
mundo todo.
Mas fica evidente que todo o liberalismo, em especial dos agentes de
mercado, toda a fobia ao Estado desaparecem na hora do aperto e a
turma recorre a "papai" (ou à Viúva,
como prefere Elio Gaspari).
Quando aconteceu na Ásia ou na
América Latina, os liberais norte-americanos, inclusive autoridades
da época, usavam uma expressão
depreciativa: "crony capitalism" ou
capitalismo de compadrio. Até havia, de fato, uma boa dose de compadrio nas ações do governo em favor do setor privado.
Mas por que, agora, os liberais
(norte-americanos ou brasileiros)
não dizem a mesma coisa? Veja-se o
que escreveu Paul Krugman para o
"New York Times", em texto ontem
reproduzido por esta Folha:
"Os Estados Unidos não estavam
perfeitamente capacitados a fazer
uso dos fundos mundiais excedentes. Em lugar disso, representavam
um mercado em que largas somas
podiam ser, e foram, investidas
muito mal".
Posto de outra forma: a mão invisível do mercado errou -e errou
feio. Papai Estado, o patinho feio do
mundo moderno, logo correu em
auxílio, na Europa e nos Estados
Unidos, numa espécie de colossal
Proer (o programa de salvação dos
bancos no governo Fernando Henrique Cardoso).
Ninguém reclamou. O excesso de
Estado provou-se um tremendo
fracasso, como o demonstra a falecida União Soviética. Mas o que é
que a gente faz com o excesso de
mercado?
crossi@uol.com.br
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