São Paulo, terça-feira, 20 de janeiro de 2009

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RICARDO MELO

Água na fervura

SÃO PAULO - Por enquanto, a vitória de Barack Obama, que hoje deve tomar posse como presidente dos EUA, tem sido muito mais rica em simbolismos do que em fatos que justifiquem o otimismo espraiado mundo afora. O maior risco é trocar a satanização de George Bush pelo endeusamento automático do ex-senador por Chicago.
Claro, o homem faz diferença. George W. Bush, que hoje pendura as chuteiras após escapar por pouco de umas boas sapatadas, será sempre lembrado pelas duas guerras inacabadas, por uma recessão que apavora o mundo e pela política interna e externa ultrarreacionárias.
Como todos sabem, tal herança não contraria as convicções de Bush, pelo contrário. Mas seria injusto considerar que legado tão lastimável tenha sido coisa de autor, ou mesmo obra exclusiva do círculo íntimo do poder na Casa Branca.
Acima de tudo, Bush foi instrumento de uma coalizão de interesses que controla os EUA não é de hoje. É impensável supor que ele entraria nas guerras que entrou, ou promoveria as carnificinas que promoveu, sem ter o beneplácito do grande capital financeiro e da indústria da guerra, bem como a simpatia de parte expressiva do chamado establishment americano.
É justamente aí, nessa coalizão de forças que já elegeu democratas e republicanos ao longo do tempo, que é preciso mexer. Quanto a isso, infelizmente, Obama não apresentou nenhuma grande novidade.
O que se prenuncia até agora em termos administrativos foge muito pouco da mesmice (como sempre, alguns dirão que é uma imposição do realismo). No fundamental, a equipe de governo anunciada por Obama não passa de uma mistura da burocracia clintoniana salpicada com alguns restos republicanos.
As medidas previstas para tirar a economia do atoleiro, por sua vez, só se diferenciam das atuais pelo tamanho dos pacotes. E se a política externa seguir o exposto por Hillary Clinton em sabatina no Senado, muitos sapatos ainda voarão.


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