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ELIANE CANTANHÊDE
Obama, trégua e desconfiança
BRASÍLIA - Um dos traços marcantes dos judeus, mundo afora, é o
brilhantismo em campos variados,
de arte a economia, de joalheria a
agricultura. Isso se traduziu num
"produto de exportação" de Israel:
as áreas militar e de inteligência.
Até aqui, na Colômbia, o Exército
e os serviços de informação, que
surpreenderam o mundo com a libertação de Ingrid Betancourt
"sem uma gota de sangue", tiveram
treinamento israelense, assim como norte-americano.
Pois bem. Dia sim, dia não, Israel
atingiu escolas da ONU, caminhão
da ONU, depósito de doações da
ONU e civis sob proteção da ONU
na atual guerra, todos identificados.
Das duas, uma: ou a competência
virou pó (de fósforo?!), ou foi ordem
superior para dizimar não apenas o
inimigo Hamas, mas os palestinos
da faixa de Gaza.
O Hamas ameaça da boca para fora "varrer Israel do mapa". E o governo de Israel, que deveria acolher
o apoio internacional enquanto vítima, parecia agir para efetivamente tirar toda aquela área e toda
aquela gente do mapa. Coisa para
tribunais internacionais.
A guerra não acabou, e o cessar-fogo mais parece uma trégua para a
posse de hoje de Barack Obama. O
Brasil soma esforços e se integra a
um movimento tácito mundial para
reduzir a importância devastadora
e a influência dos EUA sobre todo o
resto, na economia, na política e no
Oriente Médio. Mas, queiram ou
não, quem tem poder e quase US$
14 trilhões de PIB são os EUA.
Que Obama use esse poder com
bom senso e parcimônia. Pelas preces brasileiras, inclusive de Lula,
para deixar de contaminar o mundo
com a crise e irradiar recuperação;
impor o fim do bloqueio a Cuba para se aproximar da América Latina
e ser agente, não de guerras, mas de
um acordo de paz que permita dois
Estados: o de Israel, seguro, e o Palestino, viável. Obama, porém, é um
símbolo atolado em interrogações.
Tem muito a enfrentar, antes de
convencer.
elianec@uol.com.br
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